por Sérgio Brandão
Não lembro bem em que ano foi. Era década de 60. Curitiba fazia aniversário. Eu estudava numa escola próxima da Praça 29 de Março. Era inauguração da Praça. Eu e mais uns amigos decidimos matar aula para ver a festa. Tinha Chico Buarque, com a “Banda”- que fazia sucesso na época.
Ali, também estive anos antes com meu pai, vendo um jogo de várzea. Na época ainda chamavam de campo do Poti. Lembro vagamente da cerca de madeira que separava a torcida do campo. Fiquei sentado na cerca vendo o jogo. Não lembro quais eram os times em campo.
De uns anos pra cá, morei duas vezes próximo dali. Ficava dando voltas pela praça, lembrando da partida de futebol no campo do Poti e da inauguração, com o Chico e sua “ banda”. Tentava juntar as imagens e não conseguia.
Vou juntando as imagens com outras mais recentes e lembro de muitas: de um menino briguento que morava na Martin Afonso, bem no meio da praça. Também consigo lembrar de um dentista com um consultório quase na esquina.
Mais tarde, na esquina da Martin Afonso com a Desembargador, tinha uma lanchonete que foi moda. Isso já foi nos anos 70. Todo começo de namoro tinha a praça 29 de março como endereço.
Na ruela que margeava a desembargador e a praça, os carros paravam e os casais ficavam lá, de vidro embaçado, namorando. Um pouco mais pra cima, morou a Juliana, a mãe e o irmão dela- o Caco. Dois amigos que nunca mais vi.
Continuo insistindo em colar as cenas. Cada vez aparecem mais imagens mas a colagem fica mais difícil porque são de épocas diferentes. Pego desde a inauguração da praça, com a “banda” do Chico, a partida de futebol, o menino briguento, a Juliana, o Caco, o dentista e faço delas uma só. Não consigo- acho graça.
Acho que é porque Curitiba ficou mais velha. Uma senhora de 326 anos, não cabe mais a banda do Chico, a Juliana, o dentista, o menino briguento, o campo do Poti…nem se inaugura mais praças em dia de aniversário. No máximo fazem um bolo, cantam parabéns e deixam por isso mesmo.
Mas vou continuar tentando encaixar uma imagem na outra. Talvez consiga remontar aquelas cenas. Conseguindo, guardo elas para mim. Vou colocar numa moldura bem bonita e levar comigo para sempre.
Porque aquela Curitiba era outra, mas que continua sendo a minha cidade. De onde já saí inúmeras vezes, mas sempre voltei porque morria de saudade.