19:58Uma senhora de 326

por Sérgio Brandão

Não lembro bem em que ano foi. Era década de 60. Curitiba fa­zia aniversário. Eu estudava numa escola próxima da Praça 29 de Março. Era inaug­uração da Praça. Eu e mais uns amigos de­cidimos matar aula para ver a festa. Tinha Chico Buarque, com a “Banda”- que fazia sucesso na époc­a.

Ali, também estive anos antes com meu pa­i, vendo um jogo de várzea. Na época ain­da chamavam de campo do Poti. Lembro vag­amente da cerca de madeira que separava a torcida do campo. Fiquei sentado na cerca vendo o jogo. Não lembro quais eram os times em campo.

De uns anos pra cá, morei duas vezes pró­ximo dali. Ficava dando voltas pela praça, lembrando da partida de fute­bol no campo do Poti e da inauguração, com o Chico e sua “ banda”. Tentava juntar as imagens e não conseguia.

Vou juntando as imag­ens com outras mais recentes e lembro de muitas: de um menino briguento que mora­va na Martin Afonso, bem no meio da praç­a. Também consigo le­mbrar de um dentista com um consultório quase na esquina.

Mais tarde, na esquina da Martin Afonso com a Desemb­argador, tinha uma lanchonete que foi mo­da. Isso já foi nos anos 70. Todo começo de namoro tinha a praça 29 de março como endereço.

Na ruela que margeava a desembargador e a praça, os carros paravam e os casais ficavam lá, de vidro embaçado, namorando. Um pouco mais pra cima, morou a Juliana, a mãe e o irmão de­la- o Caco. Dois amigos que nunca mais vi.

Continuo insistindo em colar as cenas. Cada vez aparecem mais imagens mas a cola­gem fica mais difícil porque são de époc­as diferentes. Pego desde a inauguração da praça, com a “banda” do Chico, a partida de futebol, o menino bri­guento, a Juliana, o Caco, o dentista e faço delas uma só. Não consigo- acho gra­ça.

Acho que é porque Cu­ritiba ficou mais ve­lha. Uma senhora de 326 anos, não cabe mais a ban­da do Chico, a Julia­na, o dentista, o me­nino briguento, o ca­mpo do Poti…nem se inaugura mais praças em dia de aniversá­rio. No máximo fazem um bolo, cantam par­abéns e deixam por isso mesmo.

Mas vou continuar te­ntando encaixar uma imagem na outra. Tal­vez consiga remontar aquelas cenas. Cons­eguindo, guardo elas para mim. Vou coloc­ar numa moldura bem bonita e levar comigo para sempre.

Porque aquela Curiti­ba era outra, mas que continua sendo a minha cidade. De onde já saí inúmeras vez­es, mas sempre voltei porque morria de saudade.

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