11:11E se o Lobo Mau fosse brasileiro?

por Carlos Castelo

Era uma vez uma menina chamada Chapeuzinho Vermelho, que recebeu este nome por causa do lindo capuz encarnado que sempre usava.

Certo dia, sua mãe pediu que ela levasse alguns alimentos para a avó que estava doente e morava do outro lado da floresta.

Antes de partir, foi advertida:

«Vá direto para a casa da vovó e não fale com estranhos!»

Chapeuzinho prometeu obedecer e partiu com uma cesta cheia de guloseimas.

No caminho, ela encontrou um lobo mau brasileiro, que perguntou para onde ela estava indo. Esquecendo o aviso, Chapeuzinho contou sobre a avó enferma.

O lobo mau brasuca, que adorava levar vantagem em tudo, bolou um plano malicioso e sugeriu que Chapeuzinho colhesse algumas margaridas para a macróbia. Enquanto ela se distraía, o bicho correu para a casa da idosa.

Chegando lá, disse que era da assistência técnica do wi-fi.

«Vim pra regular o sinal da senhora…» – mentiu.

A anciã, começou a desconfiar da peta, e também ludibriou:

«Ah, meu filho, mas eu nem tenho essas modernidades no meu cafofo…».

O animal já perdia a paciência, quando a senhorinha se esgueirou até a cozinha e voltou de lá atirando com o 38 deixado pelo finado marido.

O lobo brasileiro, que era CAC, puxou sua pistola Magnum e sentou o dedo no gatilho.

Chapeuzinho Vermelho afinal chegou à casa da parenta. Logo ouviu a artilharia lá dentro.

«Ah, lobo desgracento, me passou perna…» – murmurou de si para si.

Um lenhador que andava pela mata percebeu os acontecimentos e, aos gritos da menina, tentou entrar pelos fundos da residência para propor um cessar fogo. Já levou uma bala perdida no escutador de sertanejo e caiu duro na varanda.

Chapeuzinho se desesperou. A situação chegara a um ponto sem retorno. Contudo, é sabido, as musas sempre ajudam. Num salto espetacular, um ogro verde adentrou na sala do cafofo, se interpôs entre a velha e o lobo mau nacional, e gritou:

«Sou o Shrek! Se vocês pararem agora com essa violência na frente de uma criança, contrato os dois para meu próximo longa-metragem em Hollywood!»

Houve uma trégua.

«Com o Burro e o Gato de Botas?» – perguntou, curioso, o lobo de debaixo da mesa.

«Sim! – asseverou Shrek – e com a Princesa Fiona, o Homem Biscoito, o Pinóquio e a galera toda!»

«Por mim, tá topado!» – disse o lobo.

A vovó bradou da cozinha, ainda com o cano da arma quente:

«E como eu sei que você não está blefando, bicho-papão?»

O ogro tirou do bolso um papel:

«Sempre ando com um contrato avulso para um caso como o de vocês…»

O conflito terminou na hora. Os quatro jantaram e beberam à grande em comemoração à nova vida cinematográfica.

Ao acordarem de manhãzinha, Shrek tinha carregado tudo de valor que havia na casa.

Chapeuzinho Vermelho aprendeu uma lição sobre a importância de nunca falar com gente ogra. O lobo mau brasileiro se amasiou com a vovó, abriram um petshop, e viveram felizes para sempre.

Moral da história: ninguém tem moral nesta história.

(Publicado no Estadão)

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