de Nilson Monteiro
o dia,
a noite, estrelas borrascas
de barro e breu,
de lama e lava,
trêmulos espasmos
iluminados de dor,
o cansaço
do desalento
quem pode acudir a desesperança?
transformá-la em sol
ou
pedaço de crença?
quem sacode o lençol de lodo
como campo de margaridas?
a dor é líquida,
pastosa, ilógica,
plena,
despenca do céu,
cascata de lágrimas
e pedras.
sal nessas encostas,
chicotadas de ondas
zumbindo nos morros,
afogando os mortos,
rios do avesso
engolindo o chão
as cidades, os poderes,
a fé, as pessoas,
sanha temporal
insanos vagalhões
quem pode colorir retinas opacas,
áridas,
esconder o varal de feridas?
enxame de soluços,
a dama da morte
quem pode estancar?
a chuva ensopa a alma do país.