10:38Tempestade

de Nilson Monteiro

o dia,
a noite, estrelas borrascas
de barro e breu,
de lama e lava,
trêmulos espasmos
iluminados de dor,
o cansaço
do desalento

quem pode acudir a desesperança?
transformá-la em sol
ou
pedaço de crença?
quem sacode o lençol de lodo
como campo de margaridas?

a dor é líquida,
pastosa, ilógica,
plena,
despenca do céu,
cascata de lágrimas
e pedras.

sal nessas encostas,
chicotadas de ondas
zumbindo nos morros,
afogando os mortos,
rios do avesso
engolindo o chão
as cidades, os poderes,
a fé, as pessoas,
sanha temporal
insanos vagalhões

quem pode colorir retinas opacas,
áridas,
esconder o varal de feridas?
enxame de soluços,
a dama da morte
quem pode estancar?

a chuva ensopa a alma do país.

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