6:50Amor em pratos limpos

por Carlos Castelo 

Saía pouco e quase nunca para longe do Taboão.  Mas, naquele sábado, as vizinhas convidaram Elenilda para ir a um show sertanejo no Embu. Eram tão boazinhas as meninas do bairro, ficava até chato negar.

Antes das dez da noite já sentiam latejar no peito a sofrência das letras e melodias.

Após a apresentação da dupla goiana, teve início um baile dançante. Elenilda se encostou no balcão e pediu uma dose caprichada de Amarula on the rocks. As amigas se dirigiram à beira da pista para ver se encontravam um par.

No entanto, foi para Elenilda que logo apareceu uma companhia. Era um rapaz bem apessoado, alto, barba escanhoada com perfeição. Convidou-se para ficar ao lado dela no bar e se apresentou:

– Meu nome é Leopoldino.

Tomaram mais alguns drinques, a conversa fluiu bem. Tanto que, meia hora depois, os dois já estavam a caminho da casa do moço. Residência, aliás, de uma assepsia digna de nota. Além da limpeza perfeita, tudo estava organizado de forma impecável. Elenilda nunca vira um lar tão asseado assim.

No sofá (protegido por uma capa plástica), pouco conversaram. Ao som de música romântica logo trocavam beijos e abraços.

O amasso foi esquentando, esquentando. Tanto que Elenilda começou a sentir vontade de se desvencilhar das vestes. E o fez.

Nessa hora, o rapaz se levantou e foi até o banheiro.

Instantes depois, ela, ainda meio em transe, sentiu uma presença diante de si. Ao abrir os olhos, viu Leopoldino na sua frente. Estava nu. Vestia apenas luvas cirúrgicas, touca, óculos de proteção, sapatilhas de polipropileno e preservativo.

( Publicado na Fórum)

Compartilhe

Uma ideia sobre “Amor em pratos limpos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.