7:06Ataque dos pitbulls

por Carlos Castelo

Eu me lembro bem. Estava à noite na varanda do edifício quando presenciei uma multidão de vizinhos jogando as malas para dentro dos carros e saindo em disparada.

Passados alguns momentos, veio a explicação: uma matilha de pitbulls imensos subia a rua babando atrás dos passantes.

O líder dos animais parou alguns momentos para derrubar um frágil senhorzinho, os detrás acabaram por estraçalhá-lo.

Os automóveis que haviam partido agora voltavam de marcha à ré. Isso porque um outro grupo de cães frenéticos descia a rua em direção a eles. Ficaram cercados por todos os lados.

Não demorou para chegar socorro. E, achei estranho, na forma de tanques, blindados e helicópteros das Forças Especiais. A missão teve início com gás lacrimogêneo e balas de borracha.

Quando a fumaça se espalhou vi algo que me deixou ainda mais atônito. O esforço militar não tivera efeito algum sobre as bestas. Pelo contrário, duas ou três haviam subido na torre de um dos tanques, conseguiram abrir a tampa e puxaram os tripulantes para fora com suas gigantescas mandíbulas.

No instante seguinte, os eliminaram no meio do asfalto.

A cena era dantesca. Os pitbulls, agora cobertos de sangue e espuma, avançavam sobre as tropas, que se defendiam com rajadas de metralhadora e granadas.

O som dos tiros se misturava a latidos ensurdecedores e aos gritos dos civis encurralados em seus veículos.

Do alto do prédio, eu observava a batalha horrorizado. Nunca havia imaginado algo tão terrível acontecendo na minha rua. Mas o que mais me assustava era a ferocidade dos pitbulls. Os bichos pareciam imunes à dor, ao medo. Eram máquinas de matar implacáveis.

Na hora só me passavam pela cabeça livros e longas-metragens distópicos, com teses sobre vírus desconhecidos contaminando certos tipos de animais. De fato, os seres ali defronte do condomínio não eram cachorros comuns.

Minhas divagações logo foram interrompidas. Um dos helicópteros blindados, na confusão da refrega, colidiu com outra aeronave. A explosão iluminou a noite e lançou detritos para todos os lados. Naquele momento, o silêncio tomou conta do bairro.

Os pitbulls, estacaram por alguns instantes, como se estivessem analisando a situação. Em seguida, com um novo ímpeto, avançaram sobre o que sobrara do regimento. Os soldados ainda tentaram se proteger, mas foram logo dominados e despedaçados.

A horda canina havia vencido. A rua era deles. Ou quem sabe a cidade, os estados, outros países. Rádios, tevês e internet, percebi mais tarde, estavam emudecidos.

Afastei-me da varanda, tomado pelo desespero. Sabia que o que havia presenciado era apenas o começo de algo maior. Aqueles monstros eram apenas a vanguarda de uma nova era dominada pela ferocidade.

Quando caminhava em direção ao meu quarto, uma visão me enregelou o corpo e a alma: meu cãozinho maltês Sheldon. Ele e um dos pitbulls, que entrara em meu apartamento, brincavam de correr atrás de uma bolinha de plástico.

 (Publicado no O Dia)

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