6:06Bolsonaro e o Brasil ladeira abaixo

por Célio Heitor Guimarães

Enquanto o maldito coronavírus continua ceifando a vida dos brasileiros, o capitão presidente vai construindo puxadinhos do Palácio do Planalto e neles armazenando o que há de pior na vida pública nacional. Já havia acomodado Alexandre Ramagem, na Abin; Rolando Alexandre de Souza, aliado da prole bolsonariana, na direção-geral da Polícia Federal; e André Luiz de Almeida Mendonça, no Ministério da Justiça e Segurança Pública. Aí, instalou Augusto Aras na Procuradoria Geral da República e começou a instrumentalizar o Supremo Tribunal Federal com o até então obscuro Kassio Nunes Marques, chancelado pelos ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli. Quer dizer, a fina flor do rebotalho verde e amarelo.

Na segunda-feira, foi o dia de Bolsonaro colocar o coturno no Legislativo. Colocou o inexpressivo Rodrigo Pacheco na presidência do Senado Federal e do Congresso Nacional, com o apoio do PT, PDT, Rede e parte do MDB, destacadas siglas da “oposição”. Na fala inicial, o senador de primeiro mandato, defendeu a “pacificação das relações políticas e institucionais”, sem especificar quais seriam essas relações, e reafirmou o compromisso com a independência do Senado, em nome da governabilidade. Quer dizer, sob o comando do presidente da República.

Para a presidência da Câmara dos Deputados, mais do que nunca despida de talentos, o capitão Messias escalou um legítimo representante da oligarquia alagoana, Arthur Lira, pessoalmente afinado com a conduta da família bolsonariana: é suspeito de envolvimento em desvio de dinheiro da Assembleia Legislativa de Alagoas, entre 2001 e 2007. Quer dizer, “gente nossa”.

De acordo com a Procuradoria Geral da República, então comandada por Raquel Dodge, a fraude se dava, como de costume, a partir da apropriação de parte dos salários de funcionários e também da inclusão de falsos funcionários na folha de pagamento da Assembleia. Eles repassavam o dinheiro destinado ao pagamento de salários aos deputados ou a pessoas indicadas pelos parlamentares. Segundo a denúncia, de 2001 a 2007, Arthur Lira movimentou em sua conta mais de R$ 9,5 milhões.

Durante o cumprimento dos mandados judiciais, teria sido apreendida em uma das residências de Lira uma planilha denominada de “cheques em aberto a vencer” no total de mais de R$ 1,3 milhão. Documentos indicam que o desvio de recurso em questão resultava em uma renda mensal de R$ 500 mil ao parlamentar.

Segundo a denúncia, “o grupo criminoso liderado por Lira também utilizava empresas de terceiros para simular negociações jurídicas/financeiras, buscando operacionalizar o desvio de recursos e ocultar a origem ilícita”.

Infelizmente, quando da denúncia, em 2018, o crime de formação de quadrilha já tinha prescrito pela demora do andamento judicial. Por isso, o então deputado foi apenas denunciado pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro.

A Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Alagoas condenou Lira por improbidade administrativa. A parte criminal chegou a ser enviada ao Supremo Tribunal Federal, mas foi reencaminhada de volta ao TJ de Alagoas por causa da mudança de entendimento sobre o foro. No momento, o caso segue em andamento, em sigilo, claro.

Enquanto isso, sob a proteção de Jair Messias, Arthur Lira ocupa a chefia da Câmara Federal, a quem cabe receber e processar pedidos de impeachment do presidente. Quer dizer, sem risco de sobressaltos.

Jair Bolsonaro – como registrou a Folha de S. Paulo em editorial – “consumou o estelionato eleitoral ao despir-se dos últimos fiapos do disfarce de vingador da política que vestiu em 2018. Enganou apenas quem não acompanhou seus sete mandatos como deputado federal especializado na arraia-miúda das transações parlamentares”.

E assim, de puxadinho em puxadinho, o capitão vai tocando o seu trolinho ladeira abaixo, agora com três únicas preocupações na cabeça: manter-se no poder, afastar os filhos da cadeia e reeleger-se em 2022.

Em decomposição, o Brasil aguenta? Até quando?

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Uma ideia sobre “Bolsonaro e o Brasil ladeira abaixo

  1. Jos

    Calculando que 90% dos leitores do ZB são classe media,calculo que 85% deles votaram no Bolsonaro,claro,todos fieis a lava jato,afinal fizemos um bom negocio,salvamos a Petrobras,recuperamos 15 bilhões,tudo bem pagamos 21 bilhões para acionistas americanos de multa mas o custo beneficio foi enorme.
    Foi tanto que substituímos um Celso Amorim por um Ernesto Araujo,um Fernando Haddad por um Weintraub e uma presidente honesta que estava incomodando esse centrão que ai esta por um presidente que tem toda sua família mamando na teta do erário,.
    Bela escolha vocês fizeram,claro que tem a parte descriminatória,onde o pobre de direita abriu mão de ter dias melhores para mergulhar de novo na pobreza,o Lula que está com 75 anos e demorando para gastar os trilhões que roubou e deixou ai um pouco pra nós ,365 bilhões de dólares que não está deixando por enquanto esse governo quebrar.
    A cama está quente dos dois lados,ao lado dois chinelos,o quarto desarrumado e você ainda não se tocou que está sendo traído,jogou fora uma coisa que experimentamos e gostamos que foi os anos de ouro quando Lula governou,e como sempre o humano age como um escorpião,matou de novo seu benfeitor.

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