DIÁRIO DA PANDEMIA

(*) A Defesa ficou com a maior parte do bolo. Não a Saúde, não a Educação – a Defesa. Precisamos estar armados até os dentes para nos defender do ataque de gafanhotos selvagens, do ataque das araras azuis cujos filhotes nossos incêndios acabaram por matar, precisamos nos defender de nós mesmos. O país precisa se armar contra si mesmo. Começar matando o negro e o índio, o pobre e o descontente, e logo estaremos apontando as armas contra seja lá quem for. Afinal, tanto dinheiro gasto na Defesa da Pátria precisa ser justificado. Como quando, em criança, armávamo-nos uns contra os outros, e era tudo brincadeira. Aquele nosso país chamado infância foi vencido pelas armas do tempo. E não chegamos a gastar nem um tostão do povo na compra de armamento.

(*) Hum… o amigo do capitão meu vizinho é mais macho do que parecia ser. Brincam de ofurô, é verdade, mas vai ver que nem é a sério. Estava eu aqui, sem nada para fazer, pondo ordem na minha coleção de Balas Zequinha, quando ouço o companheiro de ofurices dando o maior esporro no outro. “O que tu pensas que és? O rei da cocada preta? Nem falar você sabe, abre a boca e só fala m(impublicável). Abaixa a crista, garlizé, você é macho pras tuas p(impublicável). Não sei onde é que estou que não te arrebento. Pra montar a cavalo parece mais um bucéfalo. E engula esse  choro!”

Olho pela janela e quem é que vem chegando da rua, trazendo uma tartaruga mocozada entre os seios?

(*) E os dias passavam na mesma mesmice de sempre. Ora um gato assado vinha à baila, ora uma ema convidava o pessoal do palácio para uma bicada. Tudo muito supimpa, enquanto no Brasil real passa boi, passa boiada, também passa a moça morta que foi minha namorada.

DA LITERATURA DE CORDEL:

A vida é vai e vem
quem hoje fica por cima
capaz que amanhã também