19:29ZÉ DA SILVA

Mandei pra dentro uma pratada do Angu do Gomes, na Praça XV. Na moleira, sol de 42 graus, narinas incendiadas. Apaguei como nos tempos em que tomava caipirinha de Pitu, sem gelo, na Ilha de Itamaracá. Acho que foi por isso que acordei na Ilha do Sol, procurei pelas serpentes deixadas por Luz del Fuego (que Deus a Tenha) e logo veio a ideia da revolução possível no Brasil, como ensinou o Nelson Rodrigues. Remei até Paquetá, do tamanho de Cuba, onde tomaria as armas e declararia a independência do meu país, aquele pedaço da Baía de Guanabara que tanto inspirou o Aldir Blanc. Roubei uma charrete para estudar o ambiente. O cavalo se chamava Suzana – e quando eu soube, gritei ‘Arriégua!” Subversivo de subúrbio paulista, procurei uma boina para dar um toque real ao levante. Sentei numa pedra depois de percorrer todo o território e não consegui a adesão dos camponeses, que não eram camponeses e estavam mais preocupados com o Fla-Flu do final de semana no Maraca e os capítulos finais da novela que nunca foi das oito. Não desisti. Adiei. Em nome do movimento me apoderei de um pedalinho em forma de cisne e voltei à antiga capital do Brasil. Fui preso por um meganha parrudo, de olhos esbugalhados e vermelhos, ao pisar no continente. Ele disse que admitia tudo, menos um cisne cor de rosa sendo pilotado por um maluco vestindo a camisa 10 do San Lorenzo. Se tivesse o autógrafo do Papa, confessou antes de me dar um cascudo, ele poderia pensar em me liberar. Não era o caso.

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