8:31NELSON PADRELA

DIÁRIO DA PANDEMIA

  • Levando a gaiota ao campo e catando as pizzas secas que as vacas esqueciam no gramado. Chegando em casa com o tesouro, e meu pai espalhando aquilo tudo nos canteiros das verduras. E tudo era verdura. O tomate era verdura, bem como a couve e a alface. Talvez até as abóboras amarelas cor do sol fossem chamadas verduras porque tudo era verdura, tudo nos alimentava.
  • Descendo a ladeira da nossa rua no carrinho de rolimã, sem freio e sem documento. O desastre muita vez esperando no fim do caminho. Um joelho ralado, um cotovelo doendo, marcas da guerra.
  • Indo para a escola, cortando a manhã fria que nos cortava. O vento comendo a orelha, os pés gelados, o nariz sempre pingando. Mas os olhos, esses olhavam para o futuro e o futuro estava na escola. E na escola ficou esse futuro, congelado no tempo, negado a tantos de nós. Só o frio foi real.
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Uma ideia sobre “NELSON PADRELA

  1. SERGIO SILVESTRE

    Sem contar dos pés descalços ,eles abriam os dedos parecendo pés de pato,um convite as frieiras que eram gostosamente coçadas no pasto com o pé enfiado num quentinho monte de bosta de vaca.

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