19:10Empresária de Curitiba pede para marcar quem é a favor do isolamento na pandemia

Trecho de um texto do Museu do Holocausto de Curitiba em resposta a um vídeo divulgado pela empresária Deyse Oppitz onde ela sugere que as pessoas que são a favor do isolamento na pandemia social devem se identificar com uma fita ou algo parecido, entre outras coisas. O texto na íntegra está logo abaixo, assim como o vídeo em questão e fotos de Deyse, apoiadora do governo e das ideias de Jair Bolsonaro. 

A ideologia nazista, lamentavelmente, pode sobreviver mesmo sem seus símbolos tradicionais, mas por meio de analogias implícitas. No caso, hoje, a respeito do vídeo postado pela empresária Cristiane Deyse Oppitz, que está circulando na internet.

Sem nos aprofundarmos na referência deturpada da narrativa bíblica do êxodo do Egito, quais seriam os pontos abomináveis e que remetem ao nazismo dentro dessa, no mínimo infeliz, fala?

Em primeiro lugar, a identificação de pessoas que ela enxerga como inimigos sociais – os quais, vale frisar, ao optar pelo isolamento social em razão da pandemia de Covid-19, estão seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). O uso de “fitas vermelhas” ou afins para identificar cidadãos contrários ao seu ponto de vista, independente do contexto, guarda similaridade com os decretos que impunham a identificação dos judeus por meio de insígnias. Marcar o outro, quem quer que ele seja, é uma forma de estigmatizar, humilhar e retirar da sociedade (e, consequentemente, de seus direitos associados) estas pessoas. No caso dos decretos nazistas, foi um passo importante que levou ao posterior extermínio da população judaica.

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Do Museu do Holocausto de Curitiba

Hoje é o Yom Hashoá vehaGvurá, dia de lembrança do Holocausto e do Heroísmo. Em breve, completaremos 75 anos da rendição nazista, regime político que exterminou sistematicamente cerca de dois terços dos judeus europeus, bem como homossexuais, negros, povos sinti e roma, pessoas com deficiência, testemunhas de Jeová e dissidentes políticos, além de ter provocado a 2ª Guerra Mundial. Infelizmente, esta distância temporal não impede que a concepção e os fundamentos principais do nazismo sejam, até hoje, lembrados e difundidos.

Museu do Holocausto de Curitiba, como instituição preocupada com a construção de uma memória justa e contemporânea do genocídio, tem convicção de que não é necessário que haja uma citação explícita sobre este período nefasto para que nos posicionemos. A ideologia nazista, lamentavelmente, pode sobreviver mesmo sem seus símbolos tradicionais, mas por meio de analogias implícitas. No caso, hoje, a respeito do vídeo postado pela empresária Cristiane Deyse Oppitz, que está circulando na internet.

Sem nos aprofundarmos na referência deturpada da narrativa bíblica do êxodo do Egito, quais seriam os pontos abomináveis e que remetem ao nazismo dentro dessa, no mínimo infeliz, fala?

Em primeiro lugar, a identificação de pessoas que ela enxerga como inimigos sociais – os quais, vale frisar, ao optar pelo isolamento social em razão da pandemia de Covid-19, estão seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). O uso de “fitas vermelhas” ou afins para identificar cidadãos contrários ao seu ponto de vista, independente do contexto, guarda similaridade com os decretos que impunham a identificação dos judeus por meio de insígnias. Marcar o outro, quem quer que ele seja, é uma forma de estigmatizar, humilhar e retirar da sociedade (e, consequentemente, de seus direitos associados) estas pessoas. No caso dos decretos nazistas, foi um passo importante que levou ao posterior extermínio da população judaica.

Em segundo lugar, aprofundando em seu discurso, destacamos a questão do trabalho e da contribuição econômica como fator determinante de quem é o melhor cidadão. A lógica de que os direitos estariam condicionados ao trabalho faz parte de uma concepção segregacionista, que atingiu, nos primórdios nazistas, as pessoas com deficiência. O Aktion T4, programa de eugenia da Alemanha nazista em que médicos assassinaram centenas de pessoas consideradas por eles como “incuravelmente doentes”, teve como uma de suas “justificativas” a noção de que a sociedade não deveria gastar recursos com aqueles que não contribuem economicamente para ela.

Exemplo disto é um material de propaganda de 1938, em que, ao mostrar a foto de uma pessoa com deficiência, afirma que “60.000 Reichsmark é o que esta pessoa que sofre de um defeito hereditário custa a comunidade do Povo durante a sua vida. Cidadão companheiro, esse é o seu dinheiro também.”

Finalmente, não apenas a estigmatização e humilhação, mas também a revogação dos seus direitos civis – no caso, atingindo aqueles que não compactuam com uma opinião ou posição – viola os princípios básicos de um dos maiores legados da memória da Shoá: a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Este conceito está calcado na ideia de que certos direitos básicos não estão atrelados a qualquer tipo de mérito ou condição. Condicionar o acesso a direitos básicos, como assistência médica, à tomada de determinada atitude – no caso, a contribuição econômica via trabalho, violando o isolamento social – é negar não este ou aquele direito, mas a própria concepção de direitos humanos.

O nazismo não se iniciou com campos de extermínio, nem mesmo com suásticas espalhadas pelas ruas. Para que isso fosse possível, ideias e concepções deturpadas de humanidade eram divulgadas. Encará-las como normais e aceitáveis é um perigoso flerte com noções que tanto mal causaram à humanidade. Analogias implícitas são perigosas e precisam ser combatidas. Por isso, o Museu do Holocausto de Curitiba, diante de seu papel social, repudia veementemente as declarações de Cristiane Deyse Oppitz.

#portodaavidavamoslembrar

Descrição da imagem: montagem. Ao fundo, em preto e branco e pouco iluminada, uma cena do vídeo postado por Cristiane. Ela apoia a mão no rosto, que aparece em destaque, e olha em direção ao observador. Na parte de baixo, em branco e a amarelo, a frase: “o perigo das analogias implícitas”. Em seguida, a logo do Museu.

 

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8 ideias sobre “Empresária de Curitiba pede para marcar quem é a favor do isolamento na pandemia

  1. Leonel

    Lamentável que ainda tenha gente que sinta superior e inatingível!!! Que Deus tenha clemência desta mulher!!!

  2. José

    Por favor, onde encontro algum texto do Museu do Holocausto de Curitiba criticando a ‘alma mais honesta deste país’? Existe? Obrigado

  3. SERGIO SILVESTRE

    Deixe de ser idiota José,tá parecendo o Augusto Nunes que não fala 3 palavras sem citar o Lula.Será que o Lula era assim tão garanhão a ponto de vocês dois nunca se esquecer dele.

  4. Frik

    Olha, concordo plenamente que o nazismo foi um regime pavoroso e condenável. Considerem que existe uma nação cujos cidadãos arcam até hoje com as consequências de seus avós e bisavós haverem seguido um caminho daqueles.
    Mas considerem também que, para iniciar a implantação de um país sic “livre de diferentes”, o nazismo impôs – a princípio dentro de sus fronteiras – o isolamento social e a exclusão econômica, obrigando os que seriam (sic) ‘não-arianos’ a, por exemplo, fecharem os seus estabelecimentos comerciais, os seus consultórios etc. Então existe um paralelo entre o excluir alguém, por ser identificado com uma , digamos etnicidade minoritária, da atividade econômica, e um lockdown imposto as quem pode ser um transmissor assintomático, ou mesmo um doente em potencial, que vai aumentar a fila do sistema de saúde. Então, o que está sendo impingido – para não dizer imposto – é a restrição de movimentos e atividades. É exatamente o que foi a essência da implantação do nazismo lá nos idos de 1933. Só que restrições, não a uma minoria, mas a todos que são NÃO-ESSENCIAIS. A WHO pode estar fazendo o papel do partido totalitário que veio para (pode-se dizer) ‘livrar o mundo de movimentações e atividades não-essenciais.’ Quem já está ‘marcado para morrer’ é o empreendedor, os seus eventuais empregados, e suas respetivas famílias. Estão todos marcados com um “V” de vírus.

  5. Chaves

    Ao josé: Não devemos criticar o corrupto lavador de dinheiro, afinal de contas ele não investiu fortunas em hospitais mas construiu estádios maravilhosos, alguns deles no meio do nada, mas tem viúvas que amam essa prioridade, é melhor futebol do que saúde, né mermo?

  6. Frei Tuck

    Essa mulher é o que podemos chamar de alucinada. Percebe-se na indumentária e principalmente no olhar.

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