Sonhei que era pequena
Acordei com um susto
Estava em um poema
Era grande, sucinto e profundo
Algo como quem diz:
O mundo é um segundo
E no fundo não há mundo
Há o vazio e o escuro
E um senhor de tudo
Quem era, não soube
Mas sabia que era mudo
E gostava de brincar
Com passarinhos sisudos
Falei com ele
O senhor que não fala
E vi por trás de um véu
Uma borboleta sem asas
Era o que dizia
A voz do senhor do nada
Que voar é ser pequeno
Em uma grande casa
Quem a construiu
Era o que tinha voz
Mas ele se partiu
Para caber em todos nós
E assim me despedi
Daquele que calou e desapareceu
Para não saber que ele era eu
Fui embora e seu olhar morreu
E assim acordei para a vida
Que não passou de um sonho
De um senhor que não fala
E de outro que se esconde
Porque o segredo está longe
E nós nem sequer sabemos
Que somos aquilo que pensamos
E não no que cabemos