por Fernando Muniz
“Tudo bem com a senhora?”. Ela, atordoada, procura a bolsa. “Levaram os meus documentos… aiai, e agora? Como vou tirar a minha pensão no banco?”.
O rapaz a faz sentar na beira da calçada. Por instinto ela arruma o cabelo e ajeita a blusa, mesmo sem forças para se levantar. “A senhora quer um pouco d´água?”. Ela olha para o rapaz, sem entender a pergunta.
“Ei, o que você quer com ela?”. Um sujeito alto, corpulento, parte para cima dele. “Como assim, estou ajudando ela!”. Alguns curiosos se aproximam. Um filma e envia aos conhecidos.
“E desde quando você é médico, mané? Ei, pessoal, olha só aqui! O cara quer se aproveitar da velhinha!”.
“Eu?!”
E não dá tempo de dizer mais nada.
Funciona assim: Anos idos, numa esquina, um cara estava a “ajudar” uma mulher cuja corrente havia sido arrancada do seu pescoço por um cachorro louco – também tive a minha levada. Dizia para ela ficar calma, alisando-os seus ombros, passando as mãos em sua cabeça. Confortando-a, enfim. Do carro, ouvi quando ele disse prá mulher: Vou correr atrás desse ladrão! E desceu rua abaixo, no mesmo sentido que eu quando o sinal abriu. Na primeira esquina, vi, à direita, o cara dividindo o butim com o miau.