Debaixo dos guarda-chuvas ninguém vê o céu.
Aumenta o mistério.
A cabeça, apesar, se molha de perguntas.
Sapatos encharcados de solidão.
Na rua, rio agora,
Navegam bois de todas as religiões.
Todo mundo se afunda.
Há muita água.
Há muita sede.
As nuvens não sabem onde ficar,
Não têm casa.
Vêm morar nos córregos.
O pensamento não tem para onde ir.
Restos de um sol triste, murcho, quebrado.
Um guarda-chuva, uma enxada de desviar gotas.
O infinito mecânico, produção de pingos.
Quem trabalha no ar é transparente.
Dilúvio de vidas nubladas para as quais não há embarcação.
Protejo-me da multidão com o guarda-chuva na mão.