10:50

por Fernando Muniz

“Vai pagar essa conta, antes que o banco feche. Senão nos expulsam daqui”. O menino pega o boleto, o dinheiro e sai correndo.

Passa por uma lotérica, com uma fila que quase dobra a esquina. Diminui o passo. Escuta as conversas e o que vão fazer com os milhões do prêmio acumulado. E se ele ganhasse aquela fortuna?

No guichê, uma moça com cara de tédio sequer levanta os olhos. “O que vai ser?” Ele hesita. Põe a mão no bolso, chacoalha as moedas e entrega o papel. “Tudo nesses números”.

Em casa, tenta explicar. Ganha uma surra do pai. “Só sai do quarto para comer! A semana inteira!”

Dias depois, um carro estaciona em frente à casa. Decerto é coisa importante. Acende uma esperança no menino; a mãe desanda a chorar. O pai sente remorso.

“Bom dia. Sou oficial de justiça”.

E entrega a ordem de despejo.

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