por Fernando Muniz
“Vai pagar essa conta, antes que o banco feche. Senão nos expulsam daqui”. O menino pega o boleto, o dinheiro e sai correndo.
Passa por uma lotérica, com uma fila que quase dobra a esquina. Diminui o passo. Escuta as conversas e o que vão fazer com os milhões do prêmio acumulado. E se ele ganhasse aquela fortuna?
No guichê, uma moça com cara de tédio sequer levanta os olhos. “O que vai ser?” Ele hesita. Põe a mão no bolso, chacoalha as moedas e entrega o papel. “Tudo nesses números”.
Em casa, tenta explicar. Ganha uma surra do pai. “Só sai do quarto para comer! A semana inteira!”
Dias depois, um carro estaciona em frente à casa. Decerto é coisa importante. Acende uma esperança no menino; a mãe desanda a chorar. O pai sente remorso.
“Bom dia. Sou oficial de justiça”.
E entrega a ordem de despejo.