6:42E a luta, continua?

por Rogerio Distefano

Michel Temer chega quase sem fôlego ao pote. Pegou mal sua foto com sorriso escancarado durante a votação do impeachment. Faltou-lhe gravitas, virtude da compostura e da serenidade, um contraponto a Dilma, que quase foi às lágrimas quando Jair Bolsonaro dedicou seu voto ao coronel Brilhante Ustra, que “tira o sono de Dilma Rousseff”. Temer e Bolsonaro no quadro hipócrita, grotesco, chocante e ofensivo do impeachment.

O vice começa a organizar seu ministério e um odor de enxofre satura a atmosfera. Tem lá, como homem-chave, o ex-ministro Moreira Franco, de há muito no kitchen cabinet. Ontem, na estada em São Paulo, o vice reuniu-se com Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, criminalista de peso, remunerado a peso de ouro e advogado na Operação Lava Jato. Estratégia para uma anistia, branca ou preta? Caveat elector, caluda eleitor.

Temer procura o senador Jáder Barbalho para apoio ou neutralidade no julgamento do impeachment. Outro aliado de peso, Geddel Vieira Lima, raposa da Bahia, inimigo histórico de Antonio Carlos Magalhães, que adorava revelar seus desvios.  Sem comentários a aliança com Eduardo Cunha, garantidor do impeachment e confiante em escapar à pena que lhe cabe na Lava Jato. Temer age como se tivesse as favas contadas.

Se o vice teve apoio na câmara dos deputados, onde a qualidade dos membros é inversamente proporcional à quantidade, não há conforto no Senado. Recentes pesquisas do Datafolha mostram que a maioria dos que rejeitam Dilma rejeita Temer quase na mesma medida. Some-se o barulho previsível de PT e movimentos sociais, além do inseguro “apoio pontual” prometido pelo PSDB para que as favas comecem a desinteirar.

E o fantasma que assombra gabinetes em Brasília, o Petrolão? Raríssimos caíram na Lava Jato. A imensa maioria dos lambuzados na corrupção petroleira continua no remanso do foro privilegiado, sob a sombra fresca dos tribunais superiores. Não poucos deles são consultados por Michel Temer, seus aliados no impeachment de Dilma, eventualmente futuros ministros. Piores que todos, há os que querem secar o furúnculo e sumir com a Lava Jato.

Se Dilma sair e Temer entrar, a opinião pública se acomoda ou apresenta a fatura aos que escaparam da primeira cobrança? Queira o espírito de Tiradentes que mais uma vez o Brasil não se acomode com a derrubada de Dilma. A presidente é a menor dos culpados e a maior dos punidos – e pelas discutíveis pedaladas, fato estranho e indiferente ao petróleo. Todo cuidado é pouco com o ministério Temer, mais para Abafa Incêndio que Lava Jato.

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