de Antero de Quental
Nenhum de vós ao certo me conhece,
Astros do espaço, ramos do arvoredo,
Nenhum adivinhou o meu segredo,
Nenhum interpretou a minha prece…
Ninguem sabe quem sou… e mais, parece
Que ha dez mil anos já, neste degredo,
Me vê passar o mar, vê-me o rochedo
E me contempla a aurora que alvorece…
Sou um parto da Terra monstruoso;
Do humus primitivo e tenebroso
Geração casual, sem pae nem mãe…
Mixto infeliz de trevas e de brilho,
Sou talvez Satanás;—talvez um filho
Bastardo de Jeová;—talvez ninguém!