por Célio Heitor Guimarães

A senadora Gleisi Hoffmann, terceira colocada na eleição do dia 5 para o governo do Estado, com mirrados 14% dos votos, está magoada com o eleitorado paranaense. Em entrevista à Gazeta de ontem, disse não entender por que todo esse “ódio contra o PT”. E atribui aos tucanos do PSDB a campanha de “desconstrução do partido”.

“As pessoas me cumprimentavam” – contou Gleisi – “e diziam assim: ‘Olha, gosto muito de você, mas não vou votar em você porque você é do PT’”.

Ingratas, não é senadora!? Depois de 12 anos no poder, durante os quais acabou com a fome no país, combateu e reprimiu drasticamente a corrupção e semeou obras pelo território nacional, melhorando a vida dos brasileiros, como “nunca antes na história deste país”, garantindo o crescimento econômico nacional e o poder aquisitivo da população, além de haver patrocinado aqui a “Copa das Copas”, como podem odiar tanto os seus benfeitores?

Pois é, minha linda, mas acho que a senhora está totalmente enganada. Primeiro, por atribuir aos tucanos paranaenses o processo de “desconstrução do partido”. O PSDB do Paraná não tem competência para desconstruir nada nem ninguém – talvez apenas os seus próprios componentes. O eleitor reelegeu o garboso menino Beto porque lhe faltou opção. E então usou a lógica: entre três desgraças, preferiu ficar com aquela que já estava alojada no Palácio Iguaçu.

Segundo, senadora, o povo brasileiro não odeia o PT. Apenas não aguenta mais – como eu – o PT no poder. Cansou de tantas “realizações”, de tanto “aparelhamento” do Estado, de tanto apetite, de tanta falsidade, de tantas mentiras e de tantos escândalos. O neoliberalismo efeagaciano fez muito mal ao Brasil, quase desestatizou o Estado com suas privatizações, mas o PT de sua santidade Luiz Inácio acabou com a maior empresa estatal brasileira, orgulho dos brasileiros e referência internacional. E privatizou-a também. Só que para uso próprio, do PMDB, do PP e de uma quadrilha de bandidos. E tudo passaria em brancas nuvens não tivessem sido as ações corajosas, eficazes e patrióticas da Polícia Federal, do Ministério Público e da imprensa – essa mesma imprensa não cooptada que o PT tanto tem tentado silenciar. Por falar nisso, como anda aquele caso de Pasadena, nos EUA?

Outra coisa: alguma boa alma precisa avisar a companheira “presidenta” que não foi ela, do alto de sua generosidade, retidão e postura de feitora nacional, que ofereceu independência à Polícia Federal e ao MP. Foi a Constituição Federal do Brasil, bem antes do reinado dela.

A senadora Geisi confessa que subestimou os ataques e críticas que recebia quando estava na Casa Civil. Foi uma demonstração de soberba, excelência, um dos vícios do vosso partido. Assim como a vossa ausência do Senado Federal, para o qual fora eleita, e do território paranaense, que a elegeu. Ficar cuidando dos confeitos da cozinha do Palácio do Planalto parece não lhe ter sido proveitoso.

Talvez, apeado do poder, o PT possa reavaliar as suas posições e o seu trabalho e retornar às origens. Não voltar a ser um partido revolucionário, porque isso ele nunca foi. Nem ideológico. Mas readquirir a moral, a ética e os sonhos de um tempo em que contava com a presença e a luta de Plínio de Arruda Sampaio, Hélio Bicudo, Frei Beto, Cristovam Buarque, Luiza Erundina, Marina Silva, Heloísa Helena, Chico Alencar, César Benjamin, Fernando Gabeira, Flávio Arns, Ivan Valente e tantos outros nomes que construíram a sua história. E aí então – quem sabe? – voltar ao comando da Nação, mas sem o uso do povo como massa de manobra em troca de migalhas caídas da mesa dos banqueiros e empreiteiras. Aliás, ouso dizer que o atual PT na verdade despreza o povo e dele apenas se serve em seu projeto de perene poder.

Por isso, não lamente nem chore, prezada senadora. Não foi a senhora que perdeu a eleição. Foi o seu partido. E os brasileiros sabem por quê.