de Aldir Blanc
Eu sou a música da gente quando nua e crua
Escorro do nariz do pobre quando ele se assua
sou Carolina na janela desejando a rua…
com a solitude eu ando acompanhado
Cada virtude minha é um pecado
varejeira come lixo feito creme chantili
e que mistério tem aí?
e qual lição que eu aprendi?
Sou o cachorro na viela cobiçando a lua
Sou o vermelho da donzela quando ela menstrua
o amassado na baixela feito com gazua…
a solitude eu quis por companheira
toda mentira minha é verdadeira
trepadeira borda folha feito ponto macramê:
é um mistério de se ver
e uma lição para se aprender
– pior que a morte é desviver
Varejeira faz zoeira
no monturo do meu coração
sete estrelas eu quisera
sete vezes azuis sentinelas do meu violão.
Eu canto a lágrima e o sal que o triste chora e sua
eu sou a fome que há na santa quando ela jejua
o grito doido na garganta de uma cacatua…
Sou a paixão que faz sequela quando pega e encrua
eu sou o monstro da lagoa quando ele flutua
Se tu disser que é minha, eu digo que é a tua…
Trepadeira tece esteira
nas paredes do meu coração:
sete estrelas benfazejas
sete vezes irmãs sentinelas do meu violão