8:00A grande chance de Adriano

O jogador Adriano deve assinar contrato com o Clube Atlético Paranaense hoje e ser inscrito para disputar a Taça Libertadores da América. Não há quem não torça por sua recuperação nos gramados. Fora dele o buraco é mais embaixo e a torcida é maior para que o atleta de 32 anos volte a controlar a própria vida, que é muito mais importante. Dentro do Atlético o jogador tem um alguém, além do psicólogo Dionisio Banaszewski, que pode ser fundamental na sua caminhada no dia a dia. É o goleiro Rodolfo, que voltou a jogar recentemente depois de mais de um ano afastado dos gramados por causa da dependência de cocaína. Rodolfo esteve internado e, aos 22 anos, com um talento imenso, mostrou, pela coragem de falar sobre o problema e por ter conseguido ouvir e aceitar sua doença, que está se reforçando a cada dia na recuperação. Ouvir talvez seja a maior dificuldade de quem atravessou a linha tênue que transforma pessoas “normais” em doentes. Quem vivenciou ou conhece o problema sabe que apenas força de vontade não basta. Controlar a doença é uma coisa. Apenas parar de beber, colocando de volta a tampa da garrafa é outra. No segundo caso o risco é muito maior de se afundar de novo. O ato de beber, cheirar, fumar, injetar é sintoma de uma doença da alma – coisa que às vezes o paciente nem sabe como surgiu, de onde vem, etc. Se conhecer é o caminho. O autoconhecimento vem através da palavra, daí a importância da terapia, que não precisa ser com especialista. Pode ser através de uma conversa com padre, pastor, familiar, amigo. É aí que Rodolfo pode ser fundamental para Adriano, se ele se der essa chance – coisa que para os dependentes é difícil, pois uma das características é, além de negar o problema, achar que pode resolver tudo sozinho, ou seja, se defender. Se é que pode servir de alguma coisa, há pouco mais de 20 anos o signatário estava morrendo de tanto se drogar em Curitiba e foi despachado para a casa dos pais em Palmeira dos Índios. Todas as manhãs saía para caminhar com o irmão na companhia de um cachorro. Andavam quilômetros e quilômetros antes que o sol se tornasse insuportável. Conversavam sobre o problema mútuo, já que o interlocutor tinha problema sério com o álcool. Pouco depois, Ricardo Silva, este artista que nos brinda com suas imagens fantásticas, puxou o freio de mão e só por hoje, há mais de duas décadas, vive sua vida normal. Só alguns anos mais tarde, ele, que não frequentou terapeuta ou grupo de mútua ajuda, como o AA, revelou, numa conversa informal, que foi a partir daquelas conversas nas estradinhas alagoanas, que ele conseguiu “ouvir” e se conscientizar sobre a doença. Por isso ele a controla. Isso não é regra. Cada um é que encontra o caminho e a cada dia de sobriedade reforça essa magia que reforça e nos segura nos momentos mais difíceis, porque a vida não muda, apenas nós em relação a ela. Adriano tem algo raro que nos últimos quatro anos desprezou. Não é a fortuna que amealhou nos clubes que jogou aqui e lá fora. Muito menos a vida mundana que é fugaz e fútil. Ele tem o talento, que deve preservar acima de tudo e que só vai voltar a aflorar se ele se der a grande chance. Como está se dando o meu chapa Rodolfo.

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4 ideias sobre “A grande chance de Adriano

  1. Ednei

    É isto aí…. a dependencia quimica e ao alcool é uma situação individual mas de construção da consciencia. Eu conheço o Dionisio desde que ele era tecnico agricola da Emater. Nos, juntos extensionistas rurais , atuando com a metodologia descrita por Paulo Freire, sabemos da importanica deste processo. Vamos em frente!!!

  2. Bitte

    Com conselhos como estes, mãos amigas e cabeça erguida, vai fazer gols prá caramba e encher de alegria sua vida e a torcida. Benza Deus.

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