9:53Euzébio, adeus

Para o grande Euzébio, que  é considerado um dos melhores jogadores de todos os tempos (Carlos Alberto Torres disse que, dos que viu jogar, só perdia para Pelé), segue a definição de um mestre dos campos e das letras, coincidentemente publicada ontem no dia da partida do grande ídolo de Portugal sob o título de “A magia dos craques”:

O grande craque reúne muita habilidade, técnica, criatividade, além de ótimas condições físicas e emocionais. O talento é a síntese de tudo isso. Não se deve confundir talento com habilidade, técnica ou criatividade. Todos os grandes craques são diferentes. Cada um faz de seu jeito. (Tostão)

Confira o texto na íntegra:

 

Messi é o melhor jogador do mundo, mas o que mais brilhou, em 2013, foi Cristiano Ronaldo. Por causa das várias conquistas do Bayern e de suas ótimas atuações, Ribéry também disputa o título. Se fosse escolher os três melhores do ano, seriam Cristiano Ronaldo, Ibrahimovic e Ribéry, e os três do mundo, Messi, Cristiano Ronaldo e Ibrahimovic. Neymar seria o quarto melhor do ano e do mundo. Todos são atacantes.

O melhor jogador de meio-campo do ano foi Yaya Touré, da seleção da Costa do Marfim e do Manchester City, acima de Xavi, Pirlo e Schweinsteiger. Todos são volantes e atuam de uma intermediária à outra. O futebol mudou. Muitos não perceberam. Já os volantes brasileiros que têm atuado melhor são Ramires, que, na seleção, é reserva dos meias Oscar e Hulk, e Fernandinho, que nunca foi chamado por Felipão.

O grande craque reúne muita habilidade, técnica, criatividade, além de ótimas condições físicas e emocionais. O talento é a síntese de tudo isso. Não se deve confundir talento com habilidade, técnica ou criatividade. Todos os grandes craques são diferentes. Cada um faz de seu jeito. Jogadores extremamente habilidosos, como Robinho, não se tornaram craques por não terem ótima técnica. Outros, como Rivaldo, com extraordinária técnica, se tornaram craques, mesmo com pouca habilidade.

O perfeccionismo e a ambição são características comuns aos grandes craques. Para brilharem intensamente, precisam estar presentes, juntos, o talento individual, o coletivo, o esplendor físico e a gana de ir além. Assim como não se sabe qual é o momento exato em que um bom jogador se torna um craque, não sabemos também o instante em que começa sua queda nem se o motivo inicial é a diminuição da ambição, da concentração ou uma piora da forma física.

Cristiano Ronaldo possui mais virtudes técnicas que Messi. O português, além de alto, forte e veloz, faz gols de todos os lugares e de todos os jeitos. Passa bem e cruza como um autêntico ponta. Messi é menos completo, mas é mais encantador, mais espetacular. Faz também muitos gols, dribla em pequenos e grandes espaços e conduz a bola em grande velocidade, colada aos pés. O encanto não pode ser medido nem colocado nas estatísticas.

Neymar pode se tornar tão bom ou até melhor que Messi e Cristiano Ronaldo. Ainda não é. Diferentemente dos dois, Neymar ainda não atingiu o máximo do esplendor técnico. Ele possui um repertório mais variado, mais artístico e com mais efeitos especiais.

A torcida brasileira vai exigir que Neymar decida a Copa para o Brasil, mesmo se o time não estiver bem. Isso é cruel, pois concentra toda a responsabilidade no jogador, além de encobrir as deficiências da seleção e as mazelas do futebol brasileiro.

 

*Publicado na Folha de São Paulo

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