Do site A Gralha (http://agralha.com.br/)
Alice Ruiz sobe ao palco e responde a Domingos Pellegrini e Toninho Vaz
Ela e as filhas de Paulo Leminski acham que autores abordaram aspectos que nada acrescentam ao personagem
A poeta e letrista Alice Ruiz, ex-mulher de Paulo Leminski, deixou nesta quinta-feira (17) o silêncio eloquente que havia adotado para responder, por meio de seu perfil no Facebook, aos escritores Toninho Vaz e Domingos Pellegrini – ambos amigos do ex-casal -, que protestaram censura a vetos impostos a livros que escreveram: do primeiro, a quarta edição de “O bandido que sabia latim”; do segundo, “Passeando por Paulo Leminski”.
Para lembrar, leia nesta Gralha: http://www.agralha.com.br/ribalta-inner.php?id=935&token=e820a45f1dfc7b95282d10b6087e11c0
O livro de Vaz tem um pequeno acréscimo em relação às edições anteriores, referente ao suicídio do irmão de Paulo, Pedro Leminski, com o qual Alice e as filhas, Áurea e Estrela, não concordaram. Assim como não gostaram da descrição de Pellegrini sobre os hábitos etílicos e de higiene de Paulo Leminski e da simplicidade franciscana de sua casa no Pilarzinho.
Nesta quinta-feira, em entrevista à CBN, Alice Ruiz disse lamentar que o caso tenha tomado as proporções que tomou e que nem ela nem as filhas querem censurar os autores. Apenas consideram irrelevante ou despropositada e menção, num e noutro livro, de detalhes de vida e morte que, para ela, em nada ajudam na abordagem do personagem principal: o poeta e autor de “Catatau” Paulo Leminski. As herdeiras do também biógrafo (Jesus, Bashô, Trótsky e Cruz e Souza – todos mortos e, salvo ledo e ivo engano, sem herdeiros) afirmam ter direitos autorais sobre a obra deixada por Leminski e a obrigação de zelar por sua memória.
O confronto, que atingiu ponto de ebulição na quarta-feira (16), quando Domingos Pellegrini colocou na internet “Passeando por Paulo Leminski” – o que Toninho Vaz ameaça também fazer, com “O bandido…” -, integra o tema do momento: as biografias não autorizadas e as chapa-brancas. Os personagens vão de Roberto Carlos a Paula Lavigne (que na TV perguntou da bissexualidade da jornalista Barbara Gancia e ouviu um natural “sim”), de Leminski a Mário Magalhães (biógrafo de Carlos Marighella), de Chico Buarque a Paulo César Araújo. De Caetano a Erasmo Carlos. Leia sobre isso nos portais da Folha, Estadão, O Globo, Diário do Centro do Mundo, Vi o Mundo, Brasil 247 e outros.
A Gralha publica o texto de Alice Ruiz (sem correções vernaculares nem edição) e reproduz foto de arquivo da extinta revista Cult. Se a tal foto ofende a imagem de seres humanos (no caso, os dois, quando ainda casados), basta que Alice escreva para [email protected] que ela será retirada e substituída.
Com a palavra, Alice Ruiz.
Paulo Leminski chegou à projeção que existe hoje graças a diversas iniciativas que promovem a obra do artista. Cabe às herdeiras, Alice Ruiz, Aurea Leminski e Estrela Ruiz Leminski, tratar de questões editoriais das obras e também diversos projetos (exposição, peças teatrais, filme, documentário, discos, acervo digital, etc.) nos quais colaboram direta ou indiretamente. Juntas, mãe e filhas têm o direito por lei de serem consultadas em qualquer projeto ligado ao Paulo Leminski que venham a prover lucro a terceiros.
Em resposta às recentes publicações sobre a não-autorização da quarta edição da biografia O Bandido que sabia Latim, do jornalista Toninho Vaz, e do livro Passeando por Paulo Leminski, do autor Domingos Pellegrini, as herdeiras de Paulo Leminski se posicionam:
“O Bandido que Sabia Latim”, Toninho Vaz
Há 14 anos propusemos para o jornalista Toninho Vaz, amigo pessoal da família, escrever a biografia O Bandido que sabia Latim. Desta obra, que tem como base uma entrevista de 120 laudas de Alice Ruiz, além de diversos esclarecimentos por telefone e e-mail, nunca fez parte do acordo o recebimento de direitos autorais e só lemos a versão final quando já estava publicada. Depois de três edições, em 2009 a obra saiu de catálogo por anos por um desentendimento entre o escritor e a editora Record. O rompimento do jornalista com a editora anulou o contrato que continha a autorização das herdeiras para a publicação da obra.
Primeira violação dos direitos das herdeiras
Logo depois do lançamento do livro Toda Poesia fomos surpreendidas com notícias sobre a reedição da obra O Bandido que sabia Latim através da Editora Nossa Cultura. Tivemos conhecimento do fato, quando a editora, por precaução, nos procurou para confirmar se havíamos autorizado uso das imagens e dos poemas para a nova edição. Nessa altura, as negociações para publicação estavam bem adiantadas: Toninho Vaz já havia assinado o contrato com a editora assumindo a responsabilidade de possuir autorização para a publicação de todo conteúdo da obra e chegou a receber um adiantamento da editora, o qual teve que ser devolvido por descumprimento de cláusula contratual.
Segunda violação dos direitos das herdeiras
Quando o escritor ofereceu a obra à Nossa Cultura seria para uma reedição sem alteração do conteúdo já publicado. Porém, na fase de revisão, Toninho Vaz solicitou que um parágrafo fosse incluído no livro e foi quando a editora nos procurou para informar da modificação na obra original.
O ‘novo trecho’ tratava do detalhamento das condições da morte (suicídio) do irmão de Paulo, Pedro Leminski, fato que, acreditamos, não contribui para elucidar a personalidade e obra do biografado. Além disto, não concordamos com a atitude de explorar fatos trágicos.
Foi quando, então, diante destes dois episódios que desrespeitam nosso direito de sermos consultadas em qualquer projeto ligado ao Paulo Leminski que venham a prover lucro a terceiros, que decidimos não assinar a autorização à publicação da obra. Isto aconteceu em junho de 2013, no entanto, somente no início de outubro tornou-se público quando Toninho Vaz passou a noticiar à imprensa a não-autorização, omitindo parte dos acontecimentos como a inclusão de novo trecho na obra (matéria veiculada dia 12 de outubro de 2013, no http://www.fabiocampana.com.br/, que, após nosso contato, foi alterada).
Ainda através da imprensa, Toninho Vaz afirmou que aprofundar o tema (o novo trecho incluso) não era morbidez (matéria veiculada dia 12 de outubro de 2013, Folha de São Paulo) e buscou ‘forjar’ um conflito que inexiste entre a família, alegando que – por telefone – Elly e Ellynha Leminski estariam contrárias a nós (matéria veiculada dia 12 de outubro de 2013, O Globo).
“Passeando por Paulo Leminski”, Domingos Pellegrini
Em decorrência do distrato da editora Nossa Cultura com Toninho Vaz no afã de haver mais relatos sobre Paulo Leminski, propusemos para o escritor Domingos Pellegrini criar uma nova biografia. Mas no meio do processo, Pellegrini recuou e rompeu o acordo com a editora. Dois meses depois, fomos informadas pela editora Record que ele havia iniciado um outro livro, de relatos, o qual recebemos para análise em meados de julho de 2013 – época que coincidiu com o a montagem da exposição Múltiplo Leminski, em Foz do Iguaçu. Nossa ‘relativa’ demora em responder Pellegrini sobre a obra recebida fez com que ele nos ameaçasse causando um constrangimento e, ao único movimento que Alice fez para conversar sobre o livro, Pellegrini não respondeu:
Trecho do e-mail enviado por Alice Ruiz para Domingos Pellegrini em 05/10/2013
“A ênfase no álcool, sua leitura de uma ‘precariedade’ de bens em nossa casa (você nunca ouviu falar em contra-cultura?) as observações exageradas sobre ‘falta de banho’, que corresponde a um período de maiores excessos, mas que foi superada, enfim, tudo isso serve para criar uma imagem bem negativa do Paulo em contraponto à sua, que aparece como O interlocutor por excelência e cheio das qualidades que supostamente ‘faltavam’ a ele. (…) Achamos – nós três – que se você estiver disposto a ‘ressuscitar’ o Dinho, aquele cara que era amigo do Paulo, deixando o ego de lado, e revendo essas questões, o livro merece ser publicado. Caso contrário, não poderemos autorizar, nem a publicação das imagens e nem a publicação dos inúmeros textos dele. (…)”
EM SUMA
1. Não houve qualquer ação judicial para impedir a publicação das referidas biografias;
2. Houve um mero comunicado encaminhado à editora Nossa Cultura declarando que os familiares não autorizavam a publicação;
3. A não autorização se dá por dois aspectos:
a) Pela ausência de autorização expressa aos escritores para inclusão de imagens e poemas de Paulo Leminski, direitos pertencentes às herdeiras, garantidos pela Lei de Direitos Autorais;
b) Pela inclusão de trechos nas biografias que violam a intimidade e honra do poeta, bem como da própria família, direitos personalíssimos assegurados constitucionalmente;
4. A Editora Nova Cultura e Editora Record não criaram óbices à oposição das herdeiras, sendo que apenas os escritores estão se insurgindo em relação à decisão;
5. Nós estamos e sempre estivemos abertas ao diálogo e acreditamos que esse é o melhor caminho para qualquer questão, em especial quando se trata da memória de alguém que não está aqui para se posicionar a respeito.
Sem mais para o momento, lamentamos que a falta de diálogo pessoal tenha vindo à imprensa, em um momento que a memória de Leminski e a difusão de sua obra, que é o que efetivamente o torna o artista fundamental que é, estão em franca ascensão graças às diversas ações da família, amigos, fãs e estudiosos de todo país.
A viúva deveria ser mais honesta e afirmar que o que realmente pega é a divi$ão dos lucro$$$$$$.
Eu estava ansioso por conhecer a versão de Alice, porém me decepcionou.
Ela parece procurar pelo em ovo para justificar o seu não.
Está inaugurado o período das biografias recúperas (“a gente só mostra o que é bom”).
Depois que morrem todos se tornam bons, espero que quando passar dessa para outra ninguém fique sabendo, quero que continuem me conhecendo como o que fui.