5:59O poste

por Célio Heitor Guimarães

 

Só S. Exª, a “presidenta” da República seria capaz de justificar uma incursão extraordinária do acima assinado aqui no sagrado espaço do nosso Zé Beto.

 

Com todo o respeito àquele leitor dos tempos do falecido O Estado do Paraná – se não me engano de nome Retondário –, que esbravejou contra mim quando comparei, antes das eleições, Dilma a um poste, a “presidenta” tem se revelado não apenas um poste, mas um poste catastrófico.

 

Primeiro, permitam-me defini-la. E para tanto, por faltar-me imparcialidade, faço uso das letras do notável escritor, pensador e grande sujeito Cristovão Tezza, catarinense do planalto serrano, que honra a literatura do Paraná mundo a fora: “A presidente, embora mantendo uma imagem positiva (a “gerente honesta”), é também alguém sem carisma, humor ou empatia; comunica-se mal, como um autômato transmitindo ordens do dia. É um governo fosco, arrogante, burocrático, sem ideias.” (Gazeta do Povo, 25.06.13, p. 3).

 

Pois a nossa lamentável “Poste” ouviu o brado da rapaziada nas ruas do Brasil e levou um brutal susto. Ela já havia sido flagrada e vaiada em meio de mr. Blatter, da Fifa, e do notório Marin, da CBF, no Estádio Nacional Mané Garrincha, mas não tinha a menor ideia do que se passava no Brasil real. Assustada, correu consultar o oráculo Lula. Para tanto, embarcou para São Paulo. Levou a tiracolo, claro, o marqueteiro da presidência (sabem como é: ele é o grande solucionador de problemas do governo). Na qualidade de “presidenta”, deveria ter chamado Luiz Inácio, ex-presidente, ao Planalto. Mas, submissa, resolveu deslocar-se de Brasília ao poderoso Instituto Lula – a mais poderosa das instituições nacionais no momento.

 

Então, não se sabe se a conselho do mestre ou não, Dilma cismou de dividir a crise das passeatas e convocou a palácio governadores e prefeitos. Ali, foi de uma incompetência monumental – como diria Nelson Rodrigues.

 

Começou anunciando a realização de uma constituinte exclusiva (!) para tratar da reforma política. Foi malhada pela própria base aliada. Retirou a proposta, mas manteve um tal de plebiscito, sem saber bem o que é um plebiscito ou achá-lo uma espécie de quermesse de final de semana com todo mundo elegendo a mocinha mais simpática da festa. O jornalista Elio Gaspari está oferecendo “um mês no Pyongyang” a quem souber como um plebiscito poderá legitimar uma discussão que não se sabe como começa nem como termina.

 

Por fim, a nossa diligente “Poste” saiu-se com aquela de importar médicos, de preferência de Cuba, para atender às zonas mais carentes do Norte e Nordeste do país. A ideia já foi e continua sendo repelida pelas associações médicas brasileiras. Corporativismo à parte, com toda a razão. Não há exatamente falta de médicos no Brasil. O que há é falta de condições de trabalho para os médicos e de uma ação governamental séria para o setor da saúde pública.

 

Há carência de atendimento médico-hospitalar no Interior do Brasil, particularmente no Norte e Nordeste? Há e muito. O que faz as autoridades públicas, em especial as prefeituras, procurarem atrair profissionais no Sul e Sudeste, oferecendo-lhes, entre outras vantagens, salários em torno de R$ 20 mil mensais. Os candidatos mais solidários ou mais atrevidos aceitam a oferta e viajam, normalmente levando junto a família. Quando chegam lá é aquele impacto. Não há condições mínimas para a atividade. Hospitais desmoronando, dependências emboloradas, nenhum equipamento, nenhum medicamento, doentes abandonados no chão ou sobre armários – uma tragédia muito maior do que aquela rotineiramente mostrada nos jornais e na TV. No primeiro mês, o médico talvez receba os R$ 20 mil prometidos; no mês seguinte, recebe R$ 10 mil; no terceiro, R$ 5 mil; e no quarto, nada. E ele lá, perdido no meio da desgraça, ao lado da família que levou junto.

 

Médicos cubanos seriam bem vindos. E viriam com muito prazer, já que na maravilhosa ilha do camarada Fidel o salário médio de um médico não passa de 400 pesos ou pouco mais de R$ 50 mensais. Mas precisariam, primeiro, passar pelo teste de aptidão. Este teste batizado aqui de Revalida e realizado não pelas entidades corporativas médicas nacionais mas pelos ministérios da Saúde e da Educação do Brasil – vale lembrar – reprovou perto de 90% os médicos cubanos que a ele se submeteram em 2012.

 

Outra coisa, tão séria quanto: há notícia – que precisa ser conferida com rigor – de que, para Cuba “ceder” seus médicos, os países contemplados precisam pagar certa quantia ao regime dos Castro. Quer dizer, tais facultativos são enviados como uma mercadoria. Diz-se, também, que os médicos saem, mas suas famílias não – ficam retidas como uma espécie de garantia. Mais (e pior) ainda: há quem afirme que, do salário ganho fora do país, os médicos cubanos recebem apenas uma pequena parte. A outra é paga diretamente ao governo de Havana. Pelo menos é o que acontece no acordo entre Cuba e a Venezuela de Chávez. Aqui no Brasil chamaríamos isso de patifaria e de trabalho escravo.

 

Resta ainda uma indagação, que o impávido governo brasileiro precisaria responder: desembarcados no Norte e no Nordeste do Brasil, os esculápios caribenhos tratarão os enfermos a céu aberto ou em meio à imundice hospitalar? Em caso de cirurgia, usariam garfo e faca? Para costumar os pacientes, não há dúvida: máquinas Singer.

 

Ah, dra. Dilma, dra. Dilma! Tão bom quando a gente fazia o que e como queria e todo mundo aplaudia, não é? O diabo foi essa molecada desagradável resolver sair às ruas!…

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7 ideias sobre “O poste

  1. Zé da Rampa

    A direita raivosa baba…nenhum comentário li do Célio sobre o concluio das falência no TJ PR. Por que será????

  2. Célio Heitor Guimarães

    Sabe por que, ó da Rampa? Porque eu faço parte do esquema. Nós da direita “semos” solidários! Por que não fala você?

  3. Márcio Augusto

    O “da Rampa” (é assim que está na sua carteira de identidade?). Não conheço nenhum jornalista no Paraná que tenha sido mais crítico do Judiciário e do nosso “Egrégio” Tribunal do que o Célio Heitor. Você precisa se informar (e ler) um pouco mais. A propósito, as críticas são assinadas, com nome e sobrenome, tal como consta na carteira de identidade. Não é cagão.

  4. Zé Sarna - primo de Zé da Rampa.

    “Sabe por que, ó da Rampa? Porque eu faço parte do esquema. Nós da direita “semos” solidários! Por que não fala você?”

    “Semos.” – toda direita reacionária e fascista – classe dominate – começa a tropeçar nos seus atos falhos pelo preconceito linguístico, ou seja: “Quem sabe mais manda, quem sabe menos obedece”. Segue o baile!!!!

    “A direita política é, por natureza, golpista e conspiradora quando diante de projetos que possam contrariar seus interesses históricos. A direita é, por definição, apátrida. Ela se articula num tipo de “internacionalismo reacionário” para conservar seus interesses de classe dominante que é causadora de exclusão, de opressão e de alienação.”

    Jeferson Miola

    A classe dominante brasileira não aceita e não se conforma que o Brasil tenha se transformado profundamente e se constituído numa verdadeira Nação pelas mãos de um operário metalúrgico, nordestino migrante, um sobrevivente da pobreza e sem curso universitário. Eles até reconhecem que Lula não fraturou a ordem burguesa e que presidiu o Brasil beneficiando o povo brasileiro sem colocar em risco seus interesses enquanto classe dominante; mas lhes tira o sono que a autoria desta extraordinária obra é dele.

    Foi Lula, e não qualquer representante orgânico da classe dominante, quem modernizou o capitalismo brasileiro, ainda que este fato represente uma derrota ideológica-cultural para a equerda no longo prazo e um retrocesso na acumulação da luta socialista e por uma sociedade igualitária.

    Lula alçou o Brasil ao seu lugar merecido no mundo. E se converteu em um líder mundial reconhecido e, não raras vezes, imitado inclusive por oportunistas de direita para vencerem eleições nos seus países. Lula é doutor honoris causa em muitas universidades do mundo e referência obrigatória em consagradas academias. Isso porque foi o melhor professor que o oprimido e espoliado povo brasileiro já teve. Pela primeira vez em 150-200 anos da história do Brasil, jovens descendentes de famílias cujos ancestrais sequer foram alfabetizados, conseguem frequentar os bancos da universidade.

    Para o povo brasileiro e para a história do Brasil, Lula transcendeu a condição humana, convertendo-se desde já num mito em vida. O ódio e o recalque são os sentimentos nutridos pela classe dominante brasileira, porque não foi um filho seu que esteve à frente da transformação do Brasil.

    Não lhes conforta a idéia de que Lula faça parte da história, enquanto seu expoente maior, o príncipe FCH, tão somente faça parte de um triste passado que ensinou o be-a-bá da destruição de uma Nação.

    A classe dominante não arreda pé dos seus interesses, quando os sente ameaçados por políticas de distribuição de renda, de justiça social e de igualdade. Ela luta, com todos os métodos à sua disposição – sobretudo os mais baixos e desonestos – para preservar seus interesses. Sempre foram assim, tanto no passado como estão sendo no presente. Em todas as partes do mundo, e também no Brasil.

    A direita política é, por natureza, golpista e conspiradora quando diante de projetos que possam contrariar seus interesses históricos. A direita é, por definição, apátrida. Ela se articula num tipo de “internacionalismo reacionário” para conservar seus interesses de classe dominante que é causadora de exclusão, de opressão e de alienação – o Plano Condor é evidência disso.

    Ao “internacionalismo reacionário”, deve ser contraposto o internacionalismo democrático-popular e solidário, encharcado em uma visão libertária e democrática do mundo.

  5. Célio Heitor Guimarães

    Perdeu tempo com o falatório, ó Sarna. Podia, ao menos (ou “menas”), ter entendido que o “semos” foi sarcasmo. Assim como a parte no esquema. No mais, só uma perguntinha ingênua: você acha que Lula é da esquerda? Ao responder, por favor identifique-se. Ou será outro – com licença do Márcio Augusto – cagão.

  6. Dona Tidoca

    Zé Sarna 1 X o Célio

    “A linguagem tem a possibilidade de fazer curtos-circuitos em sistemas orgânicos intactos, produzindo úlceras, impotência ou frigidez. Porque são as palavras que carregam consigo as proibições, as exigências e expectativas. E é por isto que o homem não é um organismo mas este complexo lingüístico a que se dá o nome de personalidade.”
    Rubem Alves

  7. Wagner Wolff

    Ainda existem pessoas que acreditam nesse discurso do pobre operário que mudou o país. Mudou para a pior e o pobre operário deixou de ser operário e pobre há muito tempo. Foi bom o PT ter alcançado o poder para mostrar a sua verdadeira face que é dessa corrupção desenfreada.

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