Do jornalista Josias de Souza, na Folha de São Paulo:

Um dos momentos mais sublimes de um governo é aquele momento em que o governante descobre que também está sujeito à condição humana. Dilma Rousseff ainda não deu o braço a torcer. Mas o padrinho dela já admite, à sua maneira, que a afilhada andou tropeçando. 

De passagem pela cidade gaúcha de Canoas, Lula disse que o Brasil não será retirado “do caminho do crescimento e da distribuição de renda” por “um sobressalto ou outro”. Inflação? O ex-soberano declarou-se convicto de que Dilma “jamais vai permitir a volta da inflação”. Gastança? Dilma “é muito responsável”. Sabe que, “neste país, não se brinca com a responsabilidade fiscal.”

Longe dali, em São Paulo, FHC foi convidado a meter sua colher no angu petista. Com a experiência de quem orquestrou o Plano Real, o sábio da tribo tucana disse que a inflação ainda não fugiu ao controle. “Está nu m nível que dá pra corrigir com relativa facilidade. Desde que seja feita também política fiscal.” Arrocho? “Não é fazer austeridade como nos países europeus”, temperou FHC.

Corta para Lula. “Algumas pessoas têm memória curta”, ele alfinetou. “Eu estava dentro de uma fábrica e não faz muito tempo quando a inflação era de 80% ao mês.” Referia-se à superinflação que o ex-presidente José Sarney legou para a história. “Hoje você tem inflação de 5,8% ao ano [em 2012 o IPCA somou 5,84%]. E aqueles que foram responsáveis pela inflação de 80% ao mês estão incomodados.”

Nesse ponto, Lula misturou as informações para tirar suas próprias confusões. Em verdade, alguns dos responsáveis pela superinflação –Sarney e Fernando Collor, por exemplo— hoje são felizes membros da coalizão governista. Quem está incomodado é o frequentador de feiras e supermercados. Esse personagem sabe que a estabilidade da economia custou caro. O vídeo abaixo, veiculado aqui em abril, explica as razões da preocupação com o “sobressalto”.

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