13:02Feito nas coxas

de Xico Sá

Amigo torcedor, amigo secador, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, acertou a mão na metáfora ao dizer, em entrevista à rádio CBN, que o Engenhão foi feito “nas coxas”. A tal praça esportiva foi interditada por questão de segurança.

O país da piada pronta, nobilíssimo tricolor José Simão, também é o país da metáfora quente. O ex-presidente Lula, por exemplo, governou por metáforas futebolísticas. O professor Pasquale, fã do Juventus da Mooca, nos daria uma bela aula sobre o assunto. Continuemos com essa crônica feita nas coxas.

Esta aí uma analogia perfeita, senhor alcaide carioca, para o modelo geral que o país, tijolo por tijolo, vai tocando o conjunto das suas obras. Não somente da Copa de 2014. Os estádios são um reflexo da relação que os governos –não consigo ver exceção– mantêm com as empreiteiras desde que licitamos a primeira pinguela na taba Tupi.

O atual Paes tenta debitar ao ex-prefeito César Maia os estragos do estádio. É da obviedade do jogo político. Até porque fazer nas coxas, pelo menos em matéria de licitação pública, não é nenhum pecado no Brasil. É uma sacanagem de rotina. Ninguém é punido. Nenhum coxismo será castigado, diria o tio Nelson. Toda encoxada será permitida.

O que vemos aí é a mesma Odebrecht do consórcio do Engenhão com a OAS escalada para concessões de novos estádios, digo, arenas, esse afrescalhado batismo em voga. Está, inclusive, no rolo, brecado ontem pela Justiça, do novo Maraca, negócio sob a gestão de aliados do mesmo Paes que nos trouxe a brilhante e repetida metáfora.

Você vai dizer que essas empreiteiras gigantes do Brasil são incompetentes etc. e tal? De forma alguma. Estão entre as melhores do mundo e realizam obras monumentais até em áreas de guerras do Oriente. Aqui, como no caso do Engenhão, preferem fazer nas coxas mesmo, como reza a maior analogia da sacanagem tropical.

Para quê fazer com amor se podem fazer nas coxas? Nunca uma metáfora chula, prefiro chamar de metáfora popular, nos caiu tão bem nesse momento. Repito: não vale só para a Copa e para a Olimpíada-16. Vale para qualquer buraco.

Onde se lê “homens trabalhando”, naquelas placas dos canteiros, poderíamos substituir por um “homens fazendo nas coxas”. Parece sacanagem, mas não é, os operários em construção que me perdoem –eles apenas cumprem ordens.

E o batismo do estádio seguiu o mesmo encaixe do mal-acabamento. Com muita justiça, os torcedores do Botafogo estão em campanha para mudar o nome. Sai João Havelange e entra um João de responsa, o Saldanha. A outra opção é Nilton Santos, craque do time.

Essa campanha, aliás, não deveria ficar restrita aos botafoguenses. É uma questão cívica de todas as cores e dos fãs de todos os times.

* Publicado na Folha de São Paulo

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