7:09Ao preclaro ministro Joaquim Barbosa

por Célio Heitor Guimarães

De vez em quando, dá-me uma vontade danada de trocar umas palavrinhas diretamente como as autoridades constituídas.

A primeira foi com Luiz Inácio, quando ele era ainda a grande esperança da ninguenzada e da gente de bem deste país. Tomado de atrevimento, convidei-o, pelas páginas do falecido O Estado do Paraná para umas duas sapecadas de pinhão e umas conversinhas ao redor do fogo. Numa delas, logo depois da eleição, confessei-me preocupado com a excessiva exposição dele, antes mesmo da posse. Era muita luz em cima do futuro presidente e muita mariposa em torno dele. Depois, quando ele, já revelando as suas reais e lamentáveis intenções, começou a bajular os banqueiros e a elite perversa que há milhares de anos consomem o Brasil, fui levado a recordar a S. Exª. que ele somente estava em cima porque nós o havíamos colocado lá. Nós, a patuleia, a plebe, a choldra, o populacho. Falei para o vazio, como se viu. E deu no que deu.

Mais recentemente, foi a vez do nosso bom Gustavo Fruet, então eleito alcaide da cidade, entrar na conversa. Convoquei-o para a roda de chimarrão, passei-lhe a cuia, recomendei não mexer na bomba e disse-lhe (com o devido respeito) da minha estranheza pela divulgação da intenção do prefeito de doar parte do seu salário a uma entidade de caridade. Esse tipo de demagogia barata fora coisa inventada pelo menino Beto e seguida pelo seu apóstolo Luciano Ducci, mas não combinava com o filho de Maurício.

Agora, estou sentindo necessidade de me dirigir a outra autoridade pública. Essa, nas atuais circunstâncias e pela importância dos cargos que exerce e pelo respeito que lhe confere a nação, até maior do que as outras. Confesso- me meio constrangido, mas não resisto. Trata-se do ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O ministro não deve apreciar um pinhãozinho assado nem um mate quente, mas, como bom mineiro, não me negará um dedinho de prosa. Pois então, doutor Barbosa, o que foi aquilo, na tarde dessa terça-feira, com o pobre repórter de O Estado de S.Paulo?! O moço, no exercício do ofício dele, fez- lhe (ou ia fazer-lhe) uma pergunta pertinente. As associações de classe da magistratura nacional criticaram uma declaração de V. Exª. e o repórter apenas iniciou uma indagação – “Presidente, como o senhor está vendo…” –, para que V. Exª. o chamasse de “palhaço” e o mandasse “chafurdar o lixo”… Depois, em nota oficial, pediu desculpas a ele e atribuiu o fato ao “cansaço” e às “fortes dores” que sente nas costas. Mas aí a caca já havia sido feita.

Sabe, ministro Barbosa, numa coisa eu até concordo com V. Exª: repórter é um cara chato, curioso por profissão, fica fazendo perguntas, muitas vezes indiscretas e em ocasiões inoportunas. Mas esse é o trabalho dele. E não foi o caso do jornalista do Estadão. Por outro lado, autoridade pública tem explicações a dar; em razão do cargo ou função, tem o dever de responder às indagações que sejam feitas e que tenham interesse público. Ainda que estejam com raiva ou com uma bruta dor de dente.

Até porque, insigne ministro, no seu caso em particular, foi a imprensa – alicerçada no vosso belo trabalho durante o julgamento do dito mensalão, vá lá – que o elevou aos píncaros da glória, fazendo-o colher, merecidamente, o respeito e admiração da nação. Poucos homens de toga (ou talvez nenhum outro anteriormente) mereceram tamanha reverência.

Depois, excelso magistrado, os vossos inimigos (adversários e contendores, que seja) não estão nas redações de jornais, revistas e emissoras de rádio e de TV e não são os repórteres com uma caneta, um microfone ou uma câmara na mão. Como V. Exª. bem sabe, estão muito mais perto. E se não têm a imunidade parlamentar, usam togas como V. Exª., cultuam um nepotismozinho, defendem o chamado “filhismo” na prática da advocacia e do tráfico de influência e adoram um bom patrocínio financeiro em eventos da magistratura, ainda que os patrocinadores estejam atolados em ações na justiça.

Agora, excelência, serenados os ânimos, aceita um cafezinho? Tem pãozinho de queijo.

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2 ideias sobre “Ao preclaro ministro Joaquim Barbosa

  1. Ivan Schmidt

    Célio Heitor, como sempre aqui nesse espaço, bota as coisas no devido lugar e, ainda por cima, oferece aos interlocutores que preferem o comodismo da distância, a lhaneza lapeana da sapecada de pinhões ou do chimarão nativista…
    Cá com meus botões, CH, creio que tanto um quanto outro, se aceitassem o desafio, entre outras coisas, queimariam os beiços.
    O considerado Lula, esses dias deitou falação e se comparou a Lincoln, e o notável Barbosa, ao que parece, está se deixando envolver pelo manto da inerrância. Daqui a pouco vai querer ser papa…

  2. Barata

    O Barbosa é burro mesmo, fazendo a entrevista o repórter já estava chafurdando o lixo. Realmente somos todos palhaços em pagar o alto salário deles.

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