de Célio Heitor Guimarães
A propósito do texto escrito por Danuza Leão sobre o Country Club, que aqui comentei na semana passada, recebi a seguinte história, enviada por um leitor que se identifica como sendo alto, louro, de olhos azuis e sócio do Clube Morgenau, “com muita honra”:
“Conta a lenda que certo dia um sujeito bonito, bem vestido e perfumado, conhecidíssimo entre a patuleia e beatificado pelos asseclas, estacionou o seu brilhantíssimo carro importado no pátio do Country Club.
Eis que, surpreendentemente, surge naquele ambiente, como um vírus perdido, um oficial de justiça. Dirige-se ao príncipe encantado e afirma estar ali para apreender e levar aquela carruagem reluzente, a pedido do banco financiador que há meses não via a cor do intocável dinheiro do respeitabilíssimo devedor.
A cena poderia ser degradante e beirar o pecado supremo naquele majestoso estacionamento à beira de um lago, do campo de golfe e piscinas aquecidas, não fosse o rapidíssimo raciocínio do inteligentíssimo associado do Country (que, muito provavelmente já tinha o texto decorado para o tão (in)esperado momento).
Aos brados, para que todos o ouvissem, a impoluta figura dirige-se ao serventuário:
– Leve-o e traga-o até o final da tarde lavado e polido porque quero sair com ele à noite!
E lá se foi o oficial de justiça, sem entender nada, mas, aos olhos dos sócios do Country Club, travestido de serviçal do estelionatário, colega associado e contumaz devedor, que, por sua vez, manteve-se impávido sob o escaldante sol curitibano.
E tudo continuou na mais completa normalidade naquele sacrossanto recinto.”
Antes tarde do que nunca: é claro que o título correto é “Leve-o e traga-o limpo e polido!”