10:15Os novos velhos heróis dos quadrinhos

por Célio Heitor Guimarães

Editores de histórias em quadrinhos sempre foram figuras esquisitas. Vivem inventando moda e, não raras vezes, cometendo tolices. E, a cada dia que passa, vão ficando piores. Talvez porque já não haja mais o que inventar.

Qualquer dia, vão acabar matando de vez os heróis de papel. Ainda que super- heróis.

Todo esse introito é para lembrar que tudo foi mudado, outra vez, no chamado Universo DC. DC, sucessora da National Comics, é a editora norte-americana de gibis que publica as aventuras de grande parte dos “mocinhos”. dos quadrinhos, a maioria deles já oitentões, todos fantasiados e detentores de superpoderes, a começar pelo Super-Homem, ou Superman, o Homem-de-Aço da nossa infância e adolescência.

Em setembro do ano passado, atormentada pela queda da vendagem de suas revistinhas e pela concorrência dos games e das publicações on-line, a DC reuniu a editorada e – surpresa! – mudou toda a vida dos seus heróis. A começar, claro, por Superman. O simpático moço de Krypton, que já morreu, ressuscitou; morreu outra vez, ressuscitou outra vez; casou, descasou; deixou crescer os cabelos indestrutíveis; vestiu azul, todo azul; foi exilado; passou a dar choques… e outras cositas mais, foi novamente repaginado.

Os editores, Dan Didio e Jim Lee, acham que as inúmeras mudanças feitas através dos anos no herói fizeram-no perder alguns aspectos fundamentais e os quadrinhistas a habilidade de contar histórias com ele.

– Por isso, queremos voltar às raízes do personagem – explica Didio. “E a melhor maneira de fazer isso é retroceder até seus primeiros dias, quando se poderá vê-lo descobrindo quem realmente é, aprendendo sobre seus poderes e como as outras pessoas reagem à sua presença”.

As mudanças começaram na indumentária de Superman. Na primeira fase de sua vida na Terra, em Smallville (ou Pequenópolis), ele trocou a tradicional malha justa azul e vermelha por calças jean, uma camiseta de mangas curtas com o emblema na frente, botinas de cordões e uma pequena capa. Depois, já em Metrópolis, abandonou a velha sunga sobre a malha.

Batman muda pouco, mas se torna uma figura ainda mais soturna. Bruce Wayne volta a vestir o capuz do Homem-Mocego e Dick Grayson, ex-Robin, reassume a identidade de Asa Noturna. Mulher-Maravilha – imaginem! – ganha calças retráteis. E suas tramas passam a ser mais calcadas na mitologia grega e em seus deuses e criaturas. Barbara Gordon volta a ser a Batgirl e Mulher- Gato ou Batwoman retorna ao mundo do crime. Os Lanternas ganham um novo grupo, os Lanternas Vermelhos, bem mais sanguinários que os Verdes, com desenhos do brasileiro Ed Benes. Outro brasileiro, Ivan Reis, cuidará da arte de Aquaman.

As maiores consequências, no entanto, atingem a Liga da Justiça. O primeiro arco situa-se cinco anos no passado do Universo DC, quando a equipe é formada pela primeira vez com os maiores heróis da Terra. Os principais membros são Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde, Aquaman e Ciborgue, unidos para enfrentar a ameaça de Darkseid. Outros heróis também fazem parte do grupo, como Nuclear, Gavião Negro, Arqueiro Verde, Desafiador e Eléktron. A nova Liga é como um filme de grande orçamento, muita ação e muitos efeitos especiais.

Parte disso eu já havia lhes contado, meses atrás. A novidade, agora, é que os Novos 52 – como a reestruturação está sendo denominada – já começaram a ser apresentados aos leitores brasileiros neste mês de junho, pela Panini Comics, detentora dos direitos sobre o selo DC no Brasil. A exemplo da matriz americana, aqui as revistinhas também estão sendo todas zeradas, voltando ao nº 1. Superman nº 1 está nas bancas.

Além dos títulos tradicionais – Superman, Batman, A Sombra do Batman, Liga da Justiça, Lanterna Verde, Flash e Universo DC – dois novos chegarão às bancas e gibiterias: Edge (64 páginas), com os personagens da antiga linha WildStorm, incorporados ao selo DC, e Dark (114 páginas), que abrigará os personagens místicos e de terror da editora, incluindo duas das séries mais elogiadas da reformulação: Monstro do Pântano e Homem-Animal.

Em julho, deverão ser lançados: Superchoque, DC Terror, Grandes Astros do Faroeste e Sargento Rock & Os Homens da Guerra.  A verdade é que os editores de quadrinhos gostam de brincar com os heróis. Não raras vezes, imaginam-se os próprios. Vamos ver até onde chegarão. Espera-se que não seja ao mundo das trevas. Lex Luthor, Brainiac, Coringa, Pinguim, Duas-Faces e toda a macacada do mal estão na arquibancada.

P.S. – Acabo de ler Superman nº 1, edição nacional. Prefiro não fazer comentários. Digo apenas: Pobre Superman! Quem tem editores e roteiristas como ele não precisa de inimigos…

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2 ideias sobre “Os novos velhos heróis dos quadrinhos

  1. Parreiras Rodrigues

    Pois é, dr. Célio, anos 50-60, os meus heróis, Super-Homem, Flash Gordon, Capitão América, Tarzã, eram todos machos. Agora, aviadaram-se. Os seus editores transferiram-lhes seus figurinos.

  2. Célio Heitor Guimarães

    Pois é, meu caro Parreiras. Alan Scott, o velho Lanterna Verde, foi o escolhido pela DC Comics para sair do armário. Na Marvel Comics, a escolha recaiu no Estrela Polar, dos X-Men. Os editores até preferem, pelo motivo por você apontado, os heróis machões, cheios de musculos e malhas colantes, mas dizem que precisam ser “coerentes com a diversidade do público”. Precisam agradar a distinta freguesia. Vide Barak Obama. Os escolhidos são personagens menores, mas é uma experiência.
    Bom era o tempo em que gibis eram apenas diversão da molecada!…

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