por Célio Heitor Guimarães

Se você que lê estas mal traçadas é daqueles que acham UFOs, OVNIs ou discos voadores coisa de ignorantes enlouquecidos e/ou de fanáticos desocupados, assunto de cinema e de ficção científica, e que os tais objetos voadores não identificados só costumam aparecer no meio do mato, à noite, para assustar incautos lavradores e pobres velhinhos – como diz o boboca do Jô Soares –, precisa ler o livro de Leslie Kean, “UFOs – OVNIs: Militares, Pilotos e Governo Abrem o Jogo”, recém lançado no Brasil pela Idea Editora.

Leslie não é ufóloga, não participa de reuniões sobre ufologia e, até bem pouco tempo, era como você: uma cética consumada. Aliás, nenhum interesse tinha pelo assunto. É uma jornalista investigativa norte-americana, isto é, aquela que vai a fundo num tema, investiga, pesquisa, faz entrevistas, antes de escrever
uma história. É freelancer, com trabalhos publicados nos principais jornais e revistas e divulgados por emissoras de rádio dos EUA, e co-fundadora da Coalização para a Liberdade de Informação.

Conta que um dia um colega enviou-lhe de Paris um estudo, realizado por antigos oficiais de alta patente franceses, focalizando a existência dos chamados OVNIs e explorando o impacto potencial de tais objetos sobre a segurança nacional. Era o Relatório Cometa, um trabalho sem precedentes, em que, pela primeira vez, treze generais aposentados, cientistas e especialistas espaciais, agindo independentemente do governo da França, depois de três anos de análise, concluíram que os ditos UFOs (abreviatura em inglês
de unidentified flying object) são um fenômeno real, inexplicável, que exige imediata atenção internacional, particularmente das autoridades públicas.

Leslie Kean não mais conseguiu ignorar o assunto, que lhe pareceu profundamente fascinante e perturbador, embora de grande risco profissional. E resolveu mergulhar fundo nele. Durante dez anos, os OVNIs tornaram-se o foco de sua vida profissional. Ela entrevistou autoridades, militares e homens
da ciência, ouviu pilotos civis e militares de nove diferentes países, exigiu a liberação de documentos oficiais e checou informações reveladoras, atuando sempre como uma observadora isenta e objetiva. O resultado está em seu livro. Se não assustador, bastante inquietante.

Segundo Leslie e seus qualificados depoentes, há alguma coisa no ar, no mundo todo, que não propriamente os aviões de carreira. Tampouco o Superman dos quadrinhos. Na verdade, ninguém sabe bem o que é, de onde vem e o que pretende. Sabe-se, porém, que são objetos sólidos, bem diferentes de qualquer outro conhecido, e parecem ser controlados por alguma inteligência. Alienígena? Supõe-se que sim e há razões para isso: os radares de solo e de bordo e avistamentos confiáveis indicam que as performances dos objetos excedem em muito as melhores capacidades aeronáuticas e espaciais existentes na Terra. Alcançam velocidades e acelerações tremendas, giram em ângulos agudos e retos num lampejo e podem parar e permanecer estacionados no ar, desafiando as leis da física. Podem surgir e desaparecer de repente. E, em geral, são silenciosos, mas capazes de afetar a navegação de nossas aeronaves e induzir apagões elétricos. Frente a frente com aeronaves militares, já demonstraram ser também capazes de antecipar e neutralizar manobras defensivas, como o disparo de mísseis. Ainda assim, não pareçam ser agressivos ou hostis e já evitaram colisões que pareciam inevitáveis, ainda que – como se colhe do Relatório Cometa – “manobras de intimidação já tenham sido confirmadas”.

A jornalista Leslie Kean conclui não ser possível afirmar, sem criar pânico, que os OVNIs representem um perigo para o nosso planeta. Contudo, entende que já é hora de se proceder logicamente e as autoridades públicas, especialmente as norte-americanas, não estão dando a atenção que o fenômeno merece. O governo de Washington se mantém arrogante e desleixado em relação ao assunto. Pelo menos publicamente. E, quando pressionado, libera explicações falsas e irresponsáveis.

Outros governos, como os da França, da Inglaterra, da Rússia, da Bélgica, do Chile, do Peru, do Uruguai, do México, da Irlanda, da Austrália, do Canadá e até mesmo do Brasil, vêm liberando desde 2004 arquivos anteriormente considerados secretos. Em 2009, Dinamarca e Suécia juntaram-se a eles.
Podem não ter a força de Tio Sam, mas têm a cautela e a sensatez que faltam aos EUA.

O major general Denis Lerry, hoje aposentado, um dos organizadores do grupo francês da investigação que gerou o Relatório Cometa, resumiu os objetivos do trabalho:

“Queremos demonstrar que o fenômeno OVNI é real e não o resultado de fantasia. Fiquei atônito ao descobrir, e agora saber com certeza, que objetos silenciosos e completamente desconhecidos algumas vezes penetram em nosso espaço aéreo com capacidades de vôo impossíveis de serem replicadas na Terra. E esses objetos parecem ser operados por algum tipo de inteligência. O Relatório Cometa demonstra, de maneira direta, que a hipótese extraterrestre é a explicação mais racional, embora, naturalmente, não possa ser provada”.