12:09Nowak, olhai por nós!

Belo e emocionante texto publicado no Blog da Baixada (www.melhordoparana.blogspot.com). Pena que o autor não assinou. Confiram:

Preste atenção na imagem de Paulo Baier preparando-se para mandar o caroço na forquilha do marrento goleiro do Ceará, no último domingo. O amigo rubro-negro — que não é nenhum ingênuo — deve ter percebido, como eu notei, a manifestação do sobrenatural.

Naquele quente aperto da tarde. Intermediária ofensiva. Na diabólica “Baixada do Água Verde”. Dos olhos do velho maestro… vazava luz! Assim como, em certas horas do dia, a luz escorre pelos olhos dos santos dos vitrais de igreja. E, no exato segundo em que a bola triscou a trave para repousar no barbante, um calafriou percorreu-me a espinha: “Eu já vi isso”.

Aconteceu em 1996, o ano da redenção, os 365 dias em que o atleticanismo foi professado como jamais havia sido e como nunca será outra vez. Uma quarta-feira à noite, dia 3 de outubro, no Joaquim Américo de José Carlos Farinhaque.

Eu vi, foi na mesma meta, a da Rua Buenos Aires, 1.260, naquela região onde Ziquita bailou ao som de “Simpathy for the Devil” em 1974.

O nosso escrete era lindo. Pra começar, Evaristo de Macedo, aquele adorado por madridistas e barcelonistas, entregava os coletes. Só isso. O atleticano Ricardo Pinto era o camisa 1 — mais tarde, ele ficaria conhecido por “crânio de aço”. Reginaldo Big Dog. Alex “The Mullet Warrior” Lopes. Alberto GPS. Luis Carlos, o melhor jogador coadjuvante da temporada. Oséas da Bahia e Paulo Rink, a dupla mais pop depois de O Gordo e o Magro. E dois rapazes vindos da Polônia, que serão citados oportunamente.

Exceto por Rink, todos os mencionados estavam em campo, ante o Botafogo, pelo certame nacional. O Alvinegro carioca detinha o título máximo do futebol canarinho e contava com o goleador e comediante Túlio. Era a época dos playoffs, e uma vitória valeria um ingresso entre os oito classificados.

No entanto, 30 minutos da etapa derradeira e estava tudo por fazer…

Até que, decorridos 34, Piekarski, o polaco de alma brasileira, recebe charge de Wilson Gotardo e deita. Trilado o apito, falta nossa, entrada da área, região central. Próximo do ponto onde o interminável Baier guardou no domingo passado. Naquele time, cascudez e bola cobrança de fouls eram responsa de Jorge Luiz, último de uma linhagem de quartos-zagueiros de bigode que tivemos.

Luiz Augusto Xavier percebeu a série de eventos do além que se desenrolou e escreveu, para a Tribuna e O Estado do Paraná, uma coluna da qual reproduzo o trecho abaixo:

A partir desta intervenção, Nowak entregou-se à vocação de santo. No ano seguinte, o branquelo agiu novamente com as forças ocultas, desta feita no Pinheirão. Foi fundamental na saga dos 5 a 2 de virada sobre os Coxas. Primeiro, serviu Jorginho Pé-Murcho no gol de empate. Depois, igualou o marcador com um tirambaço de cabeça que dormiu no ângulo.

O Polaco fã de Romário, do perfume Kenzo e que se não fosse jogador de futebol seria jogador de futebol nos deixou, mais tarde, para jogar na Alemanha, sem uma revés sequer em Atletiba.

E, já há tempos longe do Bosque do Papa, acabou acometido por uma doença gravíssima, que o levou aos 29 anos. Justamente no dia em que o Furacão suplantou o Cerro Porteño, nos pênaltis, no Paraguai — passo inicial da caminhada épica na Libertadores 2005.
Hoje ele está lá, no céu, para onde vão os volantes de contenção…

E porque esta lembrança agora, quanto estamos quase sem munição, e todos atirando em nós?

Explico.

Sábado passado, eu, Peçanha e mais alguns celerados — bebuns, heréticos e outros apaixonados pelo Trétis — tivemos uma ideia, quase simultaneamente. Daquelas “estrambonáticas”, como diria Nélson Sargento.

Fomos parar no Bar da Tia Lili, ali na Manoel Ribas, próximo do prédio da Telepar. E lá, num lance de grande beleza plástica, decidimos içar para o alto da parede principal uma camisa do Atlético. Está lá, por sobre os canecos de bailes do chope imemoriais.

Mas não qualquer uma. A camisa. A joia da coroa do inesgotável baú do Aderbal. Umbro, 1997. No branco do número 5, em polonês castiço, salta a dedicatória de Nowak.

Um legítimo MANTO SAGRADO.

De polaco para polaco. Notem que o bravo defensor eslavo terminou traído pela sonoridade tupi do nome do incrível Aderba. Algo que interessa menos para o momento. De alguma forma, todos os cavalheiros presentes concordaram que a veste abençoada dali não deveria sair. Seja lá o rolar nos compromissos que nos restam, a começar pelo embate com o Peixe, amanhã.

E mais…

Sob a liderança e influência da Dona Lili, nasceu o plano de que fizéssemos uma espécie de novena pagã — bem diferente daquela que se faz no Alto da Glória. Distinta porque nós, atleticanos, forjados no Caldeirão, sabemos que o Capiroto apita, senão mais, tanto quanto Deus em nosso destino.

E ali, no domingo, no excelso do espaço da taberna, diante de todos aquelas pecadores, o manto já mostrou seu poder, despertando Nowak para beijar a cabeça calva do Maestro no encontro com o Ceará. E de seu olho vazava luz.

Só sei que de minha parte, na véspera de cada partida, daqui para sempre, levarei a minha fé de romeiro, fanático, para debaixo da armadura vermelha-e-preta na Tia Lili. Faça o mesmo. E que do céu, Krzysztof Nowak continue olhando por nós!

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5 ideias sobre “Nowak, olhai por nós!

  1. Carbono Zero

    O autor se dá ao trabalho de usar um surto de criatividade (sim, porque o texto está bem escrito sim) para um time que está a um passo do precipicio. Se quase rebaixado o cara escreve assim, imagine se estivessem disputando o titulo. Que me perdoe o escriba, mas nem São Nowak, nem São Jofre Cabral e nem tampouco Marius Celsus Petraglianis, o Imperador das Terras Baixas, a quem um dia vocês chamaram de “deus”, vão salvá-los da tragédia anunciada a mais de três anos.

    Depender da cabeça calva de um senhor de 37 anos para se salvar de uma queda para a série B foi o mesmo que jogar a responsa nas costas do Marcelinho Paraíba em 2009. E não… Não digam que vocês atleticanos são melhores que nós, que não existe termo de comparação. Pensando bem, não dá para comparar. Porque de 32 rodadas (TRINTA E DUAS) vocês ficaram 31 rodadas (TRINTA E UMA) na ZR. Mais do que merecimento, vocês são obrigados a cair.

    HAHAHAHAHAHA… São Nowak…. Tenho dó do Nowak, que seja lá onde estiver, deve estar é rindo da cara de vocês… auauhuahuahuahuahuhuahu

  2. leitor

    tá com cara de ser texto do sandrão, aka gutti. o cara escreve que é uma fineza. mas vou esperar que ele se manifeste pra entregar o nome do santo.

  3. Bart

    Não dava para esperar outro tipo de comentário de um coxa-branca que não o escrito pelo tal Carbono Zero. Parabéns, meu querido, você está representando muito bem a torcida mais recalcada do Brasil.

    No mais, sobre o texto, excelente. Esse é o futebol que não vemos mais.

    Valeu, Zé!
    Abs.

  4. Jose Maria correia

    Texto de primeira e de quem é do ramo só o Atletico mesmo na UTI para despertar tanta inspiração

  5. Tertius

    Enquanto nos fazemos piada de nos mesmos( mesmo quando estamos na lona), eles preferem destruir seu patrimônio e escancarar a selvajeria explicita, inclusive quando comentam (vide o tal carbono).

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