9:13A cultura da administração despótica

por Thea Tavares*

Pela gestão da política de trânsito em Curitiba, podemos ter uma visão clara do conceito de administração pública que o grupo político que domina a cidade há quase 30 anos impõe aos cidadãos. Muitos não param para pensar nisso, mas se o fizerem, não demorarão muito para ver a “ficha cair”: não se busca um bom trânsito, que beneficie todos os seus usuários – de pedestres a condutores -, mas um trânsito LUCRATIVO.

A pesada indústria da multa se apresenta ao cidadão curitibano antes de qualquer política educativa, que favoreça a boa convivência entre todos que transitam pela cidade, dar o ar da graça. Desde que a URBS se viu impossibilitada pela Justiça de cobrar as multas sobre as contravenções captadas pelos radares, lombadas eletrônicas e agentes do Diretran, todo o empenho da Prefeitura de Curitiba se voltou para a busca de alternativas em torno de como continuar garantindo essa vultosa arrecadação. E os meios de comunicação também polemizam sobre, claro, o “bandido” que se aproveita dessa “trégua” ou “entressafra” para cometer os crimes, como os de avançar o sinal, imprimir velocidade exagerada e todo tipo de abuso atualmente “sem detecção e punição”.

Mas a questão central não chega a ser debatida: a de que o objetivo maior da política de trânsito que vigora em Curitiba é o da arrecadação. Imagine um pai de família que bate, pune e aplica castigos nos filhos antes mesmo de educar e de ensinar as regras de convivência na família e na sociedade? O poder público – na concepção autoritária dos demo-tucanos – é esse pai que usa o aparelhamento estatal apenas para multar e para punir; pratica uma administração despótica. E ainda age como se a multa fosse a única proposta viável.

Esse mesmo modelo de gestão, que no trânsito mostra apenas uma face, “resumo” de seu pragmatismo, é o que censura e derruba o pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff (PT) do ar na TV E-Paraná, quando ela vem à Curitiba anunciar que o governo federal está destinando R$ 1 bilhão a fundo perdido para as obras do metrô e emprestando outros R$ 750 milhões à Prefeitura de Curitiba para que o empreendimento aconteça. Tirar do ar sua fala é adotar a “filtragem” na seleção do que é exibido e, mais do que isso, é trazer de volta à cena o pai autoritário que diz o que os filhos já bem crescidinhos podem e não podem ver, devem ou não devem ouvir.

O modelo que a turma de Beto Richa (PSDB) implantou em Curitiba, via URBS, ICI etc, é o mesmo que, agora, está sendo exportado para o governo do estado, por meio dessa epidemia de agências reguladoras, dos esquemas de privatizações mascaradas e dos desmandos sobre órgãos e equipamentos públicos sob suas asas, como acontece na TV E-Paraná.

* Thea Tavares é jornalista e assessora de imprensa da deputada Luciana Rafagin (PT). O texto acima foi publicado oringinalmente no blog Lado B (www.ladob.com.br)

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6 ideias sobre “A cultura da administração despótica

  1. ROQUE

    É interessante falar em indústria pesada da multa. Toda indústria só prospera quando tem consumidores do seu produto. Se os motoristas fossem conscientes, não cometeriam infrações (produto da industria de multas) e a indústria não prosperaria por não haver compra dos seus produtos.

    Quanto ao modelo implantado e que está sendo exportado, parece que a jornalista está falando da área federal. Se o PT acha que as agencias reguladoras são uma epidemia basta acabar com todas elas na esfera federal (estão com a faca e oqueijo na mão). Sobre os esquemas de privatizações, o que aconteceu e vai acontecer com as rodovias federais (BR 116, etc.), com os aeroportos de Viracopos, Guarulhos, Brasilia ? Devem ser também esquemas de privatizações !!!!!! Vamos olhar o nosso telhado antes de atingir o do vizinho .

  2. Miguel Orleryk

    Meu caro Roque, sábias palavras. A quadrilha PeTista daqui parece (de propósito) não ter nada com aquela instalada em Brasília sob a benevolência da justiça mais corrupta desde os tempos da monarquia.
    O PT do Paraná finge combater os governos estadual e municipal mas nunca se manifesta contra crimes maiores praticados poEr Zés, Agnelos, Orlandos e Lullas crimes esses que aumentam ano após ano depois que a quadrilha petista se instalou em Brasília.
    Aqui na terrinha eles posam de honestos mas se beneficiam da roubalheira federal.
    Acorda Brasil antes que seja tarde demais! Não vamos entregar o Paraná para desqualificados e corruptos.

  3. Parreiras Rodrigues

    Roque se antecipou ao meu comentário.

    Em Maringá, circularam adesivos: Visite Maringá e Ganhe Uma Multa. A resposta de grande parte dos visitantes: Estive em Maringá e não fui multado. Dirigi direitinho.

    E quanto à crítica às privatizações, não fossem elas, governo algum terá condições de construir obras estruturais necessárias ao desenvolvimento sócio-econômico da Nação. Dona Dilma sabe disso e é aderente à prática. Feudos como a Petrobrás por exemplo, procuram se blindar contra a privatização, pois ela lhe significa a desmontagem do cabidão de empregos e sinecuras, das benesses aos apaniguados e sanguessugas.

  4. tony

    Infelizmente a jornalista misturou alhos com bugalhos. É inegável que há uma indústria da multa instalada na cidade, o que é muito ruim. Mas atribuir isto ao governador, aí já é pedir demais. A crítica conseqüente sempre é bem vinda, mas ilações são inaceitáveis, principalmete partindo de gente que serve a deputado. E de partido que faz oposição ao governador, aí fica pior ainda. Criticar sim, exagerar não. ACarlos

  5. Tarugo

    Porque a Prefeitura não coloca sinaleiro com timer (igual aos de São José dos Pinhais) nos sinaleiros onde existem os radares ?
    Eu sempre fico na dúvida, ando sempre a 60km onde tem radas, mas se paro no início do amarelo o carro que vem atrás bate no meu, se vou adiante levo multa.
    Eu votei no Stica e pedi para ele criar uma lei para a colocação dos sinaleiros inteligentes onde tiver o radar.
    Vamos acabar com a indústria da multa.

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