14:33HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Peixes

Na esquina de duas avenidas movimentas do Centro da cidade ele se sentou. Tinha uma agência de banco ali. E um espaço com placas de mármore na grande vidraça por onde se via o movimento lá dentro. Ele sentou e nunca mais saiu dali. Dava expediente desde as primeiras horas da manhã até quando diminuía o corre-corre das pessoas nas calçadas e o transitar dos carros. Não falava. Não ouvia quem tentava puxar conversa. Só olhava tudo, com o maior interesse. As unhas não cortava há muito tempo. Banho também não tomava. Se vestia com roupas em cima de roupas. Não se sabia se tinha ganho aquelas roupas ou não. Comer, comia o que lhe davam. Sobras de quem almoçava por ali, sobras de lanche, uma fruta, um doce. Recebia, não agradecia e comia. Um dia alguém o seguiu. Descobriu que morava numa casa onde mulheres de programa, já velhas, levavam clientes que conseguiam na rua e também moravam ali em cubículos. Um dia ele sumiu. Da esquina e do prostíbulo. Alguém conta que o viu caminhando numa estrada. Tinha um cachorro como companheiro. Não estava mais sozinho no mundo.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.