7:08Wilson Bueno, adeus

Wilson Bueno – Foto de Vilma Slomp

A notícia, seca, desprovida de sentimento, porque é assim mesmo, está escrita assim: “O escritor Wilson Pinto Bueno, de 61 anos, foi encontrado morto dentro de sua casa, no bairro Santa Cândida, em Curitiba, por volta das 19h30 desta segunda-feira (31).  De acordo com informações da Polícia Militar, a casa estava toda revirada, o que pode indicar latrocínio (roubo seguido de morte). Wilson Bueno foi morto com um facada no pescoço. Quando o descobriram, estava morto há mais ou menos 12 horas”. E aí, mais alguns dados. “Nasceu em Jaguapitã (PR) e morava em Curitiba desde a década de 70. Foi criador e editor por oito anos do jornal Nicolau. Escreveu 13 livros. Colaborava, com resenhas de livros, para O Estado de S. Paulo, a Revista Ideias e era cronista semanal do jornal O Estado do Paraná.  Era considerado um dos mais importantes escritores brasileiros contemporâneos”.

Wilson Bueno era daquelas pessoas com energia contagiante. Para dentro e para fora. Se você chegasse perto dele em dia cinza, como uma vez, há muito anos aconteceu com o beque aqui, pronto, através de seu rosto misterioso e ao mesmo tempo alegre, entrava-se num redemoinho que fazia bem, porque ele falava como escrevia, jorrando cultura, muitas vezes ininteligível para os poucos versados, mas com certeza pra cima, para arregaçar horizontes, para descobrir e se descobrir. Numa conversa de duas ou três horas, não lembro, parimos uma capa da saudosa Veja Curitiba, onde ele aparece na capa empunhando o grande Nicolau como se fosse uma porrete. Depois, todas as raras vezes em que nos encontramos pelas esquinas desta Curitiba violenta que acaba de ceifar a vida deste menino, ele abria um sorriso tão sincero que, na primeira vez, me fez ter certeza de que tinha feito um bom trabalho como fruto daquela conversa – o que pra mim era bastante coisa pois vivia nas trevas da incerteza. Há tempos não via o escritor de Mar Paraguayo e Manual da Zoofilia, livros que a gente precisa estar em sintonia para atravessar. Há tempos não via a grande figura que expandia energia mesmo quando em silêncio. A dor de ler a notícia desprovida de sentimento, mas com os elementos da tragédia que atravessa nossas vidas, ficará para sempre. Amém.

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