de Jorge Luis Borges
Houve mesmo um Jardim ou foi um sonho?
Lento na vaga luz, me perguntei,
quase como um consolo, se o passado
de que Adão, tão pobre oje, era dono,
não passou de uma mágica impostura
do tal Deus que sonhei. Já é impreciso
na memória o tão claro Paraíso,
porém eu sei que existe e que perdura,
só que não para mim. A terca terra
é meu castigo e a incestuosa guerra
de Cains e Abéis e suas proles.
E, mesmo assim, é muito ter amado,
haver sido feliz e ter tocado
o vivente Jardim, um dia que seja.