de Nelson Padrella*
O porto de Lisboa não tem mar.
Como no Rio Grande
um rio grande
é o mar.
No castelo de São Jorge
soldados esperam a ordem de descansar
enquanto o rei D.Manoel
conversa pacientemente com Vasco da Gama
sobre o caminho das Índias.
Chove em Lisboa a mesma chuva de Roma.
Uma mulher passa, apressada.
Eu olho. Não vejo nada.
Em Roma havia um perfume
de terra molhada.
Que fazemos em Lisboa
eu e Fernando Pessoa?
Gastamos a vida à-toa.
Sá-Carneiro, me empresta
teu tiro
para eu matar este tédio.
*“Esse poemim fiz em Lisboa, sentado na Estação Ferroviária de Santa Apolônia. Faz parte do meu ‘Diários de Viagem’, que naufragou no meu computador, desescafandrado”