7:10A tampa e o lixo

A sensação é como se o latão de lixo fosse destampado e uma onda ininterrupta de dejetos vomitada todo dia nos noticiários arrastasse a ninguenzada que, para não se desesperançar de vez, deixasse levar porque sabe que o chão do país é firme. O conteúdo da maré fétida não era desconhecido, mas uma coisa é ter uma ideia – a outra é ser soterrado não só pelo material podre, mas acompanhar a desfaçatez de quem o produz, porque a realidade deles era aquela mesmo, protegidos que estavam dentro de palácios para onde foram colocados exatamente por aqueles que sempre ficaram de fora, sustentando a coisa toda. Estes, os crápulas sanguinários, assassinos por tabela dos que pagam sempre a conta e recebem enganação, não um pouco de estímulo ao discernimento e à crítica, e quase nada de suporte para mitigar dores reais no corpo de músculos e mentes esgarçadas, os crápulas se contentam com o exército de bajuladores a lhe informar que estão fazendo o certo, daí o ar de sapiência, a saliva pronta para o discurso, o autoengano que ajuda. Um ladrão de colarinho branco não tem dor na consciência porque ele não rouba um, aquele que pode identificar como pessoa (nunca como gente). O que faz, tirando de onde pode e ao custo de uma assinatura, ordem ou conluio regado a bebidas, comidas e mulheres contratadas, é de uma massa disforme, uma multidão, um povo que, hummmmm, nasceu para isso mesmo. A tampa arrancada mostra um pouco disso, mas a onda podre leva a multidão a ficar ainda mais inerte, esperando, esperando, esperando o… o que, mesmo?

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