16:33A segunda vinda de Helena

Helena_n6

Capa da revista Helena, publicada pela Biblioteca Pública do Paraná e editada pelo jornalista Omar Godoy. Ela saiu da gráfica esta semana. O texto a seguir é de apresentação da publicação que é trimestral e estava há 3 anos sem aparecer. Confiram:

Helena voltou. Depois de um período fora de circulação, a publicação trimestral da Secretaria de Estado da Cultura, editada pela Biblioteca Pública do Paraná, retorna reformulada, com formato diferente, ensaios de fôlego e mais conteúdo de âmbito nacional — assinado por colaboradores de diferentes regiões do Brasil. A essência do projeto, no entanto, se mantém. Além de colocar o estado em diálogo com o resto do país, a revista busca cumprir uma missão nem sempre compreendida: a de valorizar o jornalismo cultural em um momento de profundas transformações da atividade.

Foram apenas três anos de ausência, mas muita coisa aconteceu enquanto a Helena deu um tempo. Assistimos ao 7 a 1 na Copa do Mundo, à disputadíssima eleição presidencial de 2014, ao segundo impeachment do Brasil redemocratizado, ao avanço de líderes nacionalistas em vários países, etc. Acontecimentos que tornaram o mundo ainda mais incerto e sem garantias. “Incerteza”, aliás, é uma das palavras mais recorrentes desta edição de retorno.

Maria Amélia Mello, uma das editoras mais importantes do país — trabalhou diretamente com nomes como Ferreira Gullar, Campos de Carvalho e Rachel de Queiroz —, escreve na página 194 que a geração de hoje “tem dificuldades em conectar o passado ao futuro”. Talvez seja uma afirmação injusta para com os mais novos, mas o fato é que o caminho escolhido para a reestreia da revista neste cenário indefinido é justamente o do olhar sincrônico, que entrecruza o presente, o passado e o futuro.

A própria Maria Amélia reconta sua longa trajetória profissional para abordar o momento atual do mercado editorial. Após uma viagem pela Inglaterra, Alexandre Matias explica por que o rock revolucionário dos anos 60 virou música clássica no século XXI. José Carlos Fernandes resgata a história quase esquecida da editora curitibana Grafipar, responsável por publicar uma série de revistas transgressoras e pioneiras.

Luís Augusto Fischer apresenta uma nova leitura de O amanuense Belmiro, trazendo o romance octogenário de Cyro dos Anjos para o contexto atual. João Varella traça um perfil da cineasta Anna Muylaert na tentativa de entender sua recente guinada politizada. Eduardo Macarios mostra, por meio de fotos, a diversidade arquitetônica dos museus de Curitiba — do histórico Guido Viaro ao futurista MON. Silviano Santiago evoca Guimarães Rosa e Pasolini para enaltecer o “saber vaga-lume” (errante, inapreensível e resistente à máquina totalitária).

Outra característica desta segunda vinda de Helena: não escolhemos um lado. Estamos mais interessados nas áreas cinzas, nos traços que se borram. Vide o ensaio em que Alex Antunes comenta a polarização política em voga — e aponta seus primeiros sinais de desgaste. Ou a entrevista de Ronaldo Bressane com Felipe Hirsch, em que o diretor teatral diz ser patrulhado por militantes tanto de esquerda quanto de direita.

Marcelo Mirisola imagina Borges e Cortázar discutindo nas redes socais (para depois afirmar que a boa literatura está acima dos interesses e paixões). E Fernando Ceylão reflete sobre os famigerados “limites do humor”. Esta edição de primavera ainda traz um poema de Zulmira Ribeiro Tavares, um conto de Maria Valéria Rezende, HQ de DW Ribastki inspirada na obra do escritor Manoel Carlos Karam e dezenas de ilustrações de artistas dos mais diferentes estilos.

Em tempo — o nome da revista é uma homenagem à escritora paranaense Helena Kolody (1912-2004), que escreveu, entre outros poemas: “Sem aviso/ O vento vira/ Uma página da vida”.

Boa leitura e até a próxima estação!

 

 

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.