7:41Tempo de desalento e fúria

por Célio Heitor Guimarães

Dias desses, eu quis tirar o time de campo. Encaminhei uma mensagem ao mestre Zé Beto argumentando não entender mais este mundo e muito menos este nosso país. De repente, mocinho virou bandido e bandido, mocinho. Aqui, mesmo em meio a uma brutal pandemia, só se pensa em levar vantagem, enganar o próximo. Não há mais inocentes. Os especuladores estão em plena ação; os destruidores da floresta, os invasores de terras indígenas e a garimpagem ilegal e predadora contam com o apoio governamental. E eu me sinto um idiota, sustentando os meus conceitos e princípios ultrapassados. Afirmei que já havia dito (e até repetido) tudo o que achava necessário dizer. Por isso, chegara a hora de parar.

Reiterei que hoje reina o ódio no Brasil, irmão contra irmão, amigo contra amigo. Não há mais espaço para discussão civilizada, troca de ideias, manifestação de opinião. Perto de me tornar octogenário, conclui que o meu tempo já passou. Não me é dado mais o direito de ser ingênuo, iludir-me e ter a esperança de dias melhores – a não ser, talvez, daqui a uns cem anos.

Como exemplo, citei a Operação Lava-Jato. Subitamente, virou maldita. Não obstante, para mim continua sendo a coisa mais importante que aconteceu no país nos últimos tempos. Nunca, em tempo algum, bandidos de carteirinha, notórios e tradicionais larápios do erário, como a família Odebrecht, Queiroz Galvão, OAS, Andrade Gutierrez, Lula, Sérgio Cabral e que tais foram tirados de circulação e recolhidos ao xadrez. Sem falar dos bilhões de reais restituídos aos cofres públicos pela ação da Lava-Jato e do juiz Moro. Ah, mas foi a Lava-Jato que elegeu o Bolsonaro… Não foi. Quem elegeu o capitão foi Lula e seus asseclas e a imbecilidade do eleitor brasileiro.

Houve excesso no procedimento. Talvez, mas não lhe ofuscou o brilho. Os procuradores Dallagnol, Santos Lima, Pozzobon e os demais integrantes da força-tarefa em Curitiba agiram em consonância com o juiz Sérgio Moro? Ótimo. Na defesa do patrimônio público, são aliados. O Ministério Público não é parte; é uma instituição, assim como o Judiciário. E na luta contra o Mal, os do Bem devem unir-se. Ou alguém ainda acha que os Odebrecht, Lula, Sérgio Cabral, Alberto Youssef, Paulo Roberto Costa, Renato Duque, Eike Batista, Nestor Cerveró, Antônio Palocci, Eduardo Cunha e João Vacari Neto, entre outros, são inocentes injustiçados? Só aquela triste banda de beca autodenominada Grupo Prerrogativas, notórios petistas e defensores de Lula, Dilma, Temer, Sarney, Aécio e Serra. Aliás, o denunciado “conluio” precisaria incluir também os desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região e ministros do STJ e do STF (Teori Zavascki e Edson Fachin).

Quem pensa assim, não tem mais lugar no pedaço. Além do que, por não ser fascista, corre o risco de ter o seu nome arrolado no dossiê preparado pelo atual Ministério da Justiça para ser entregue ao império norte-americano.

Zé Beto não aceitou o meu pleito. Ainda que concorde com os meus argumentos, afirma que eu preciso continuar expondo o meu pensamento em meio a essa balbúrdia incompreensível que é o Brasil hoje. Diz que a escrita sustenta a nossa alma. E, citando Nelson Rodrigues, “um pouco de clareza para olhar em volta a gente tem”. Em seguida, sublinha: “Você me apresentou o seu mestre Rubem Alves e eu vou apresentando ele e você a quem nos lê. Se faz sentido a eles ou não, aí já não posso dizer, mas sei que estamos cumprindo uma missão”.

Que assim seja, meu querido ZB. Cumpramos a nossa (ingrata) missão e vejamos até onde podemos ir. Eu comecei com quinze leitores, desde os tempos do extinto O Estado do Paraná, de Mussa José Assis. Era o conhecido “Grupo dos 15”, assim nominado pelo Mário Montanha Teixeira Filho. Depois, os quinze foram reduzidos a nove; hoje, tenho dois ou três que ainda me leem. Que concordam comigo, nem tantos.

A coluna continuará, possivelmente sem a regularidade tradicional. Às vezes, sairá do ar. Para o descanso de todos. Especialmente deste que aqui digita. Ter consciência (e raciocinar) no atual Brasil é doloroso.

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9 ideias sobre “Tempo de desalento e fúria

  1. José Maria Brauninger

    Ainda bem que não estou ficando louco porque era essa impressão que tinha. Bandido vira mocinho e mocinho vira bandido, tudo normal principalmente para os supremos capas pretas. Obrigado dr Célio.

  2. Raul Urban

    Certamente, e porque ex-discípulo de Mestre Mussa José Assis, continuarei sendo um dos fiéis leitores deste também Mestre que nos embalou no Jornalismo, ainda nos tempos heróico-lúdicos do sempre saudoso Estadinho, onde iniciei a carreira e de que guardo lembranças ímpares. Vai em frente, Nobre Célio, com meu abraço.

  3. SERGIO SILVESTRE

    Com todo respeito ao Heitor,gostaria que ele mostrasse uma prova categórica,não suposição que o Lula roubou.Mas foi ratificada sua condenação no TRF4, ora gente,sabemos como é a justiça aqui no Sul,basta ver a sentença odiosa e racista de uma juizá ai da capital,a maioria é assim ,não foge a regra.
    Naquelas conversas via Intercept que os procuradores chamam de conversas roubadas,não muito diferentes das conversas gravadas do juiz moro,mostrando em rede nacional o dia a dia de conversas particulares de famílias as expondo ao ridículo e ridicularizando a esposa Mariza ,o neto e irmão que ,morreram.
    Falaram tanto em prender,quem está preso Heitor?O Cunha,ora ele parece estar ali guardado ,não preso,sua mulher e filha continuam gastando a fortuna que roubou,e a esposa do Cabral,livre como uma pomba,e as centenas de delatores,até parece que fizeram tantas para deixar soltos todos que contribuíram,alguns com verdades e uma maioria deles mentiram ,seguiram um script ditado pela lava-jato e pelo juiz-promotor Moro.
    Qual foi o custo beneficio da lava-jato,acabar com nossa construção pesada que atuava pelo mundo,a nossa construção naval e a paralisação de um projeto de submarino nuclear,onde agentes do FBI atuavam em conluio com esses procuradores ,claro com interesses dos EUA ,para barrar o projeto.
    A historia será mostrada um dia,nosso Pais é mesmo uma republiqueta com um povo muar ,imbecilizado por parte de uma imprensa que se vende fácil,os bons jornalistas são podados pelos patrões da mídia,muito na mão de celerados que não ligam para o Brasil e sim para seu bolso.
    Qual é o problema de abrir a caixa preta da lava jato,mentira que vá prejudicar investigações,até por que eles tinham um canal de informações ligados a Globo,onde as operações eram acompanhados em tempo real.
    O Brasil perdeu trilhões de reais e foram recuperados 4 bilhões das negociações com delatores,estes hoje morando em mansões nos condomínios fechados,com centenas de milhões roubados, e estão presos meia duzia até para não ficar feia demais a coisa,mas os familiares todos numa boa.
    POIS É;

  4. João

    Deve ser duro viver de ilusões e mergulhar no lodo da defesa cega dos dallagnois e moros… deve ser duro! Se fosse tão simples separar mocinhos de bandidos, não precisaríamos de advogados… o problema é que o jogo dos mocinhos nem sempre é defensável… isso não absolve os bandidos, mas não há mocinhos nessa guerra de babuínos…

  5. swissblue

    o 4o. leitor que segue suas colunas pede para continuar nos proporcionado uma agradavel leitura.

  6. Maristela

    Ainda bem que o Zé Beto não deixou você bater em retirada. Os leitores deste blog saem ganhando com sua permanência.

  7. Mário Montanha

    Meu caro comandante Célio. Do Grupo dos Quinze original, é possível que tenhamos tido algumas baixas. Se existiram, elas foram recuperadas em seguida. Não tenho os números, mas a certeza de que crescemos. E a minha certeza vem da necessidade dos seus textos, que é compartilhada por muita gente. Eu digo isso com tranquilidade, até porque discordo, como você sabe, da sua opinião sobre a Lava Jato, ao mesmo tempo que concordo com muitas outras sobre coisas várias. Isso mostra que ainda é possível debater cordialmente, sem ódio, “nessa balbúrdia incompreensível que é o Brasil”. Sigamos, ora pois. Quero encontrá-lo nas quintas-feiras. Sempre. Grande abraço.

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