7:30A Lava Jato faz água

por Maria Hermínia Tavares de Almeida

Desfecho melancólico da operação só servirá para alimentar o desalento e o cinismo

A Lava Jato naufraga sob o peso de atitudes de procuradores justiceiros, de um juiz vaidoso e politicamente comprometido e de um ex-procurador-geral destemperado —todos dispostos a colocar suas paixões e interesses acima do devido processo legal. Caberá ao Conselho Nacional do Ministério Público e ao Supremo Tribunal Federal resgatar a operação das águas turvas.

Até lá, permanecerá no mínimo duvidoso o seu potencial de robustecer o controle da corrupção política. A Lava Jato poderá ser apenas o mais vistoso dos espetáculos do gênero que se sucederam desde a redemocratização, com limitadas consequências para o fortalecimento da moralidade pública. Como foram o escândalo da Ferrovia Norte-Sul, no governo Sarney; a revelação do esquema de PC Farias que resultou na renúncia do presidente Collor; a armação dos “anões do Orçamento”, em 1993;  a tentativa de beneficiar o grupo Opportunity na privatização das teles, a compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição e o “mensalão mineiro”, todos no governo Fernando Henrique; o caso Bancoop, o escândalo dos bingos, o mensalão e o caso dos dossiês falsos no governo Lula.

Em artigo publicado na revista Dedalus, em 2018, o cientista político Matthew Taylor, professor da American University, em Washington, sustentou que esforços bem-sucedidos para reduzir a corrupção política são sempre processos de longo prazo antecedidos por fracassos. O êxito pode vir tanto de iniciativas destinadas a tal, como ser um resultado imprevisto de medidas com outras finalidades.

De todo modo, segundo Taylor, surtos de iniciativas anticorrupção só teriam efeitos duradouros se acompanhados de inovações institucionais para aumentar a transparência dos órgãos públicos, a capacidade de monitoramento de suas ações por outras agências públicas ou privadas e a aplicação de sanções a corruptos e corruptores.

Ainda que a impunidade não prevaleça, a vitória sobre a ladroagem política nunca é completa. A corrupção faz parte das sociedades humanas, quaisquer que sejam seus regimes de governo. Nas democracias, é recurso para ganhar eleições e manter os vitoriosos no poder. De toda maneira, mesmo na hipótese de que essa não seja a intenção deliberada de seus perpetradores, degrada o sistema democrático e o desgasta aos olhos da população.

A despeito de tudo, a Lava Jato teria um legado positivo se suscitasse a discussão serena sobre a dimensão institucional do controle da corrupção política. Mas provavelmente seu desfecho melancólico só servirá para alimentar o desalento e o cinismo dos brasileiros.

*Publicado na Folha de S.Paulo

Compartilhe

2 ideias sobre “A Lava Jato faz água

  1. jorge

    As dezenas de bilhões recuperados dos corruptos, dinheiro roubado do povo brasileiro, não tem importância. Importante é manter livres os amigos corruptos. Jornalista hipócrita e .na minha percepção, canalha ,

  2. SERGIO SILVESTRE

    Esse Jorge é tão mentiroso até nas cifras,foram só 2 bilhões recuperados e mais de 500 bilhões jogados pela janela.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.