8:39Feriado urbano

por Thea Tavares 

Peguei um rabo de conversa no Centro Cívico entre o flanelinha e a funcionária pública. Ela perguntou: “Como o senhor tem passado? Eu soube que foi atropelado aqui na frente”. Ele: “Bem, minha filha. Foi feio. Fiquei uns tempos fora, mas já me recuperei. Obrigado pela sua preocupação”. Nem bem disse isso, a lembrança triste deu lugar a um brilho repentino nos olhos e o bom homem abriu um sorriso espontâneo: “Foi em outubro do ano passado. Quer dizer que já fiz aniversário”!

Se juntássemos todos os ‘aniversariantes’ do ano na cidade de Curitiba e mais a lembrança dos que não puderam esperar pela confraternização, já teríamos motivos de sobra para declarar feriado. O respeito às leis de trânsito e o resgate das normas da boa convivência social precisam estar na ordem do dia e em regime de urgência-urgentíssima. Sob pena de preenchermos na íntegra esse calendário macabro com os nomes de mais pessoas, mais acidentes, mais histórias interrompidas e dramas familiares. E, anestesiados, olharmos para essas situações apenas sob o ângulo indiferente das estatísticas e da banal fatalidade.

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