7:04E assim caminha o Judiciário

por Célio Heitor Guimarães 

“Talquei”, como diz o nosso capitão-presidente. A moda atual é descer a borduna no ex-juiz Sérgio Moro e na turma da Lava-Jato. De repente, viraram a desgraça nacional. Era esperado. No Brasil, por tradição, ninguém se torna celebridade impunemente. Aqui, não se admite o sucesso alheio. Ainda que tenha sido em proveito do país, da decência, da moral e da ética.

Algum dia, em algum lugar, alguém há de achar uma brecha, um deslize que possibilite a desqualificação do afamado e/ou de seus feitos – conduta que a psiquiatria atribui às frustações de cada um e à inveja insana do êxito de outrem.

Não vou entrar na discussão. Cansei de participar de debates inócuos com os sábios de plantão, com os ditadores da verdade. Sou um idiota juramentado e sinto-me bem na minha estupidez. Continuo achando que Sérgio Moro e a equipe de procuradores e policiais da Lava-Jato foram a melhor coisa que ocorreu no Brasil nos últimos cem anos (ou mais). E não mudo por causa de um converse entre os integrantes da operação, captado de forma irregular por gente sem grande afinidade com a compostura e a probidade. Não consigo vislumbrar no material colhido nada que contamine o trabalho realizado. O único pecado de Moro foi haver confiado num desajustado e abandonado uma carreira de 22 anos de bons serviços ao Judiciário e à Justiça.

Em vez de prolongar a contenda, dando margem para um interminável bate-boca, prefiro dar a palavra a um inimigo. Por acaso, um meliante comprovado, condenado a 26 anos de prisão por corrupção ativa, estelionato e peculato, que deveria ter construído a sede do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo, obra inacabada e que custou um 1 bilhão de reais além do previsto, o ex-senador e ex-companheiro de Fernando Collor de Mello Luiz Estevão de Oliveira Neto, hoje cumprindo pena em regime semiaberto. Em declaração à revista Veja, Luiz Estevão considera a Lava-Jato o mais importante acontecimento das últimas décadas:

“Eu acho que deveria ser erguida uma estátua para o ex-juiz Sérgio Moro em cada município brasileiro. Não vi ninguém na história fazer o que o Moro fez pelo Brasil”. Realça que a força-tarefa da Lava-Jato conseguiu a proeza de mostrar o segredo do sucesso das grandes empreiteiras nacionais: “Era a capacidade de corromper. Essas grandes construtoras não corromperam apenas uma vez. Elas têm um histórico de trinta, quarenta anos de corrupção. O Moro desmontou esse castelo de cartas”.

Luiz Estevão é um patife? É. Fez fortuna valendo-se de métodos pouco ortodoxos e amizade com os donos do poder. Mas o que disse, não importa se apenas para agradar a plateia, corresponde à realidade, queiram ou não.

O maior feito de Sérgio Moro, de Dalton Dallagnol, Carlos Fernando dos Santos Lima, Roberson Pozzobon e seus colegas, procuradores e policiais, não foi haver colocado Lula da Silva na cadeia e desmantelado a maior quadrilha de assaltantes dos cofres públicos do País, protagonizada pela cúpula petista – ainda que isso também tenha sido importante. Foi ter apanhado e trancafiado no xadrez o bando de corruptores engravatados, argutos e poderosos, que exploravam o Brasil e os brasileiros desde que Deodoro proclamou a República. Essa proeza nem os seus detratores são capazes de negar.

Agora, aqueles que acham um desatino e uma indecência ou uma promiscuidade o eventual diálogo mantido durante o procedimento entre os procuradores da República e entre estes e o então juiz Sérgio Moro, devem ler urgentemente o recém lançado “Os Onze”, edição da Companhia das Letras, a parcos R$ 59,90 no mercado. No livro, os autores – jornalistas Felipe Recondo e Luiz Weber – mostram, com riqueza de detalhes e conhecimento de causa, como funciona a coisa em Brasília, na mais alta Corte de Justiça do país, o “Excelso Pretório”, onde têm assento os mais destacados e respeitados operadores do Direito, as sumidades encarregadas de fazer Justiça.

Onze corresponde ao número de ministros do Supremo Tribunal Federal, selecionados pelo seu notório saber jurídico e reputação ilibada, já identificados (pelo ex-ministro Sepúlveda Pertence) como “onze ilhas”. Agora, como se sabe e o livro detalha, não é mais bem assim. As “ilhas” se comunicam entre si, combinam decisões, trocam ideias com o Procurador-Geral da Justiça, convocam-no para reuniões fechadas. E segue a valsa.

Na casa maior da Justiça, hoje como ontem, imperam a vaidade, o egocentrismo, a arrogância, a disputa de egos e de poder, a represália, a facciosidade e outros vícios reprováveis. Isso quando o cenário não é dominado por insultos mútuos e o risco de agressões físicas entre suas excelências. Tudo diante das câmeras da TV Justiça e em nome do “nosso processo civilizatório”, como já pontuou o ínclito ministro Gilmar Mendes. As exceções são mínimas.

Por tudo isso, não me venham com essa de que, ao trocarem informações e/ou comentários, juiz (Sérgio Moro) e procuradores (Dallagnol e companhia) feriram de morte a dignidade, a ética e a decência de seus cargos, contaminando todo um trabalho realizado.

Com todas as vênias do universo, aqui para vocês!

P.S. – De dentro da cadeia, Lula se diz contra a anulação de toda a operação Lava-Jato. Só da parte que lhe atinge. O surpreendente não é a declaração, mas que ainda ouçam a opinião dele. E a publiquem na primeira página dos jornais.

 

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2 ideias sobre “E assim caminha o Judiciário

  1. João

    Infelizmente a vaidade de ministros, alçados ao cargo pelos arranjos e bastidores da política, tinham real consciência da força explosiva da lava jato. Não podemos esquecer do mensalão e da coragem do ex ministro Joaquim Barbosa, perseguido com veemência pelo ministro gilmar mendes. Hoje este ministro aponta toda sua artilharia contra a LAVA JATO, a republica de Curitiba, dr.Sergio Moro, Deltan, promotores, queimar a maior operação da nossa história, COM QUAL PRETENSÃO? PROTEGER a quem talvez? Muitos politicos, parlamentares, empresários ex.senadores, ex ministros, deputados enfim, uma coleção infindável engolido pela maior operaçao ANTICRIME ORGANIZADO.

  2. SERGIO SILVESTRE

    Pois é,eu acho que um Pais que em 2001 tinha o dolar a 4 reais,quebrado e o trabalhador recebendo um salario minimo de 60 dólares que mal dava para comprar 4 latinhas de azeite Galo.
    Mas o assunto é o combate a corrupção,aquela corrupção minha que você não quer ,mas releva a sua e vamos seguindo o barco.
    Só para citar números,250 bilhões ano fogem pelo ralo e esse dinheiro precisa ser lavado,como na época do Banestado onde o pupilo do Heitor não recuperou um centavo,mas arrumou um amigo,o Yossef que mais adiante voltando a delinquir foi o grande amigo delator do Moro.
    Nós vamos envelhecendo e começamos a acreditar em almas e assombrações,pergunto ao Heitor que já viveu muito,qual a sua ou a minha contribuição para que a corrupção acabasse,já que desde que nasci somos corrompidos,somos surrupiados em toda forma de roubos.
    Na justiça só não ve quem não quer mas é um antro de corruptos,advogados malandros que galgam posições e hoje são nossos magistrados.
    Agora te pergunto,a corrução antes dos governos petistas eram menos ou mais que nos seus governos,,e se a Dilma fosse tão corrupta como dizem nossa elite proclamada em conversas por Joaquim Nabuco,nossa elite num futuro sempre terá os resquícios das escravaturas,é uma elite perversa que não suporta pobre e negro,me parece que ele esqueceu de dizer que tambem não suportariam um estadista nordestino amado pelo mundo.

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