Do blog E tudo acabou em Sfiha, de Gerson Guelmann
Dª Sara, uma velhinha judia, chegou na agência de viagens e disse:
– “Eu quero ir para a Índia.”
O gerente da agência, acostumado a atender a idosa e conhecendo seus gostos, ficou surpreso e começou a argumentar:
– “Para a Índia? Dona Sara, a senhora não pode estar falando sério. A Índia é inóspita, muito quente, têm muita gente lá. É uma viagem longa, os trens são péssimos. Como a senhora vai fazer com a comida? É tudo muito picante, seu organismo não está acostumadocom esse tipo de alimentação.”
A senhora respondeu:
– “Não importa, eu quero ir para lá.”
O homem, verdadeiramente preocupado, insistiu:
– “Dona Sara, a senhora vai ficar doente. Eles têm epidemias de hepatite, cólera, febre tifoide, malária, só D-us sabe mais o que. O que a senhora vai fazer se ficar doente? Pode imaginar como são os hospitais? Não existem médicos judeus lá. Porque correr tantos riscos?”
– “Está decidido, vou para a Índia” – ela disse.
Vencido pela teimosia da cliente, o agente de viagens fez todos os arranjos e dona Sara embarcou.
Chegando na Índia, a velhinha não se intimidou com o barulho e com a confusão causada pelas multidões. Decidida, embarcou num trem e foi para o interior, em direção a um templo Hinduísta, cujo Brâmane era muito conhecido e atraia gente de todos os lugares.
Lá ela se juntou a uma fila aparentemente interminável de pessoas à espera de uma audiência com o líder religioso. Um ajudante avisou-a que ficaria pelo menos três dias de pé, na fila, até que conseguisse ver o Brâmane.
– “Tudo bem, eu espero” – respondeu ela.
Depois de dias que pareciam intermináveis, a idosa chegou às portas sagradas do Templo. Lá outro ajudante disse que no momento em que estivesse na frente do Brâmane, só poderia dizer quatro palavras.
Mais algum tempo passou e ela então foi introduzida no santuário interior, onde o sábio estava sentado, pronto para conceder bênçãos espirituais aos iniciados ansiosos.
Pouco antes de chegar ao local onde o líder religioso estava sentado, dona Sara foi orientada novamente:
– “Lembre-se, apenas quatro palavras.”
Ao se aproximar do sacerdote hinduísta, ao contrário dos outros devotos, ela não se prostrou aos seus pés. Na frente dele, cruzou os braços sobre o peito, olhou firme em seus olhos e disse, em tom autoritário:
– “Samuel, volte para casa.”