por Renato Terra
Para ler ao som de “Esta família é muito unida / E também muito ouriçada / Brigam por qualquer razão / Mas acabam pedindo perdão”
Hamilton Mourão iniciou a semana em reunião consigo mesmo para elaborar propostas econômicas. Além da extinção do 13º salário e o fim do adicional de férias, o militar vai defender que a empresa cobre pelo cafezinho, pelo copo d’água, pelo uso dos banheiros, pelo xerox e pela conta de luz quando o ar-condicionado estiver ligado.
Ao longo da semana, aprimorou uma reforma trabalhista raiz, que tornará facultativo o pagamento de salário desde que patrão arque com o custo de hospedagem dos trabalhadores em senzalas. Para se blindar de críticas, preparou uma versão mais branda que autoriza o pagamento dos trabalhadores em balas Juquinha. Na quinta, foi desautorizado por Paulo Guedes e por Juquinha. Na sexta, teve seu silêncio desautorizado por Jair Bolsonaro. No sábado, foi desautorizado a pintar o cabelo.
Jair Bolsonaro desautorizou Paulo Guedes na segunda-feira. Na terça, desautorizou Gustavo Bebianno, que havia desautorizado o diretório de Brasília a desautorizar Paulo Guedes.
Na quarta, proibiu a si mesmo de falar de assuntos que não domina, como economia, educação, saúde e culinária da Ásia Oriental. Em seguida, negou três vezes, diante do espelho, que tenha estimulado a violência. Na quinta, desautorizou, via Twitter, seu vice Hamilton Mourão. Na sexta, desautorizou os jornalistas a falarem a seu respeito e Cora Rónai a falar sobre seu aquário.
Paulo Guedes iniciou a semana cochichando, discretamente, com empresários graúdos sobre a venda de Roraima para o capital estrangeiro. Na terça, reuniu-se com banqueiros em um bunker. Na quarta, foi desautorizado a usar o bunker. Na quinta, guardou seu plano econômico em um cofre. Na sexta, o cofre foi violado por Bolsonaro.
No final da tarde, o presidente Michel Temer gravou um vídeorecitando um novo poema de sua lavra:
QUADRILHA
Jair desautorizava Paulo que desautorizava Hamilton/ que desautorizava Sargento Pincel, que não desautorizava ninguém.
Jair foi para a reserva, Paulo para uma holding/ Hamilton tentou um autogolpe/ e Sargento Pincel destacou-se como o menos trapalhão da história.