por Vinicius Mota
O Brasil sofre de um desajuste crônico que, agravado ao longo dos últimos anos, tem produzido crises e ameaçado a própria arquitetura civilizacional. Falta um consenso de longo prazo sobre o regulamento do jogo coletivo.
Estamos na prática em desacordo com os princípios de “fair play” das sociedades abertas, tais como: dinheiro público flui com prioridade para a emancipação dos pobres; empresas seguem as mesmas balizas de tributação e competição; derrotas na arena civil são aceitas como um fato da vida adulta, reversíveis apenas dentro das regras.
Porque impera a lei do mais forte nas relações com o Estado, a despesa previdenciária concentra renda e exige cada vez mais esforço de toda a sociedade para financiá-la.
Porque algumas empresas obtêm vantagens tributárias e competitivas, o governo arrecada menos, e o PIB cresce aquém do que poderia.
Porque os recursos não são canalizados com prioridade para crianças e jovens carentes, e porque mecanismos corporativistas travam a eficiência do ensino público, o ciclo da baixa produtividade e da elevada desigualdade salarial se repõe.
Porque o orçamento dos estados se consome cada vez mais com servidores inativos, como mostrou a Folha no domingo (19), a capacidade de organizar os sistemas de polícia e Justiça se deteriora. Diminui a possibilidade de resposta adequada à matança de brasileiros, que corre à velocidade de 64 mil por ano.
Quando os economistas, na sua dicção enregelada, enfatizam a preocupação com o ponto extremado a que chegou a chamada crise fiscal no Brasil, é na verdade de algo bem fundamental que estão a falar.
Há um desacerto no modo como temos convivido, na forma de encaminhar e resolver os principais conflitos internos, que produz desastres bastante concretos na sociedade e turva a perspectiva do futuro.
Não há solução técnica que dê conta de superar esse dilema. É de política que se trata.
E alguns candidatos insistem em endeusar o agronegócio. A persistir assim, continuaremos exportando o agro, pensando que estamos fazendo negócio. Como fazemos com o minério de ferro.
Pronto, lancei a campanha: INDUSTRIALIZAÇÃO JÁ, E AQUI DENTRO!