18:33Não te vás

 Por NELSON PADRELLA

           Não te vás, ainda alma minha. Permita

que este corpo ainda se deleite

com o pouco de vida que me resta.

            Que fugaz a passagem dos dias e dos anos!

            Minha porta fechou para o sorriso dos amantes.

            Ficaram lembrares de peles

            esticadas e dentes de marfim.

            Que quero ainda, alma minha?

            Se este corpo fechou como uma porta

            e os amantes já não assomam

com suas peles esticadas e seus

            dentes de marfim.

            Estou sozinho em mim, que me fechei assim

            e vivo de lembrar os ontens

            onde o fogo da paixão me devorava.

            Tenho os retratos. Os rostos tão

            queridos, com suas peles esticadas

            e seus dentes de marfim

            não mais sorrindo para mim

            congelados

            naqueles ontens de alegria

            mas como se ainda fossem para mim

os rostos e os sorrisos

            e os dias de marfim

tão esticados

que cansava viver um dia inteiro.

Inteiro nem eu estou. Estou quebrado

pela areia do tempo

A areia que vai enchendo a ânfora

enquanto o ar da vida vai saindo.

Eu quero… eu quero ainda um prêmio

Não um milagre, que desacredito de milagres

– um doce que o menino não ganhou

ou ganhou e se regalou –

Eu quero ainda uma alegria

como aquela que eu voltando de viagem

encontrava meu amor

sorrindo para mim com

a pele esticada

e os dentes de marfim.

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Uma ideia sobre “Não te vás

  1. stella

    Taqueuspariu, Padrella, véio de güerra: matou a pau!!!

    Aí sim.
    Beleza.
    Parabensão mesmo.
    Pegou no nervo.

  2. Pé Vermelho

    Já cunharam um príncipe dos poetas. Mas isso não quer dizer que seja o único. ‘Eis que se vocês seguirem aquela estrela, encontrareis a casa, em Curitiba, onde mora outro príncipe dos poetas, ao qual chamareis de Padrella. Levais não ouro, nem incenso, nem mirra e sim, dinheiro para comprardes os seus livros e lendo-os, ficareis ricos’. Ô Nelsão, não achas que dou prá evangelista? Dô nada, sô! Sai fora! Não tenho nem gaiola, prá que quero coleirinho (piada do Mazza na Folha, dias idos).

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