20:06ZÉ DA SILVA

A baioneta apareceu na banquinha de uma feirinha de praça. Ao lado uma figueira centenária observava tudo. Olhou e fixou as retinas. Tirou a arma da bainha. A lâmina estava enferrujada, mas sem deterioração. Nunca tinha comprado ou ganho canivete suiço. Pra que uma baioneta utilizada na guerra? A segunda mundial, explicou o vendedor. Pagou com cartão de crédito. Levou para casa embrulhada em jornal, sentindo o peso do aço. Se trancou no quarto e abriu o pacote. Olhou tudo minuciosamente. Havia um número na lâmina: 08638-S. Parecia senha bancária. Um estalo. Conhecia aquele número. Um dia no passado distante o pai tinha pedido para ele jogar no bicho – milhar, centena, seco e molhado. O velho faturou uma grana no sorteio da Federal. Lhe deu uns trocados. Ele foi comprar quebra-queixo na barraquinha que ficava na praça. O vendedor tirou o naco do doce com força e usando uma faca que brilhava com a luz do sol. Ali, ao lado, a figueira observava.

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