É uma história linda e doce – e precisa ser contada. Foi o dia em que meu irmão parou de beber. Ele tomava tudo desde que se enveredou pelo underground dos quadrinhos na cidade grande. Largou os estudos e um dia apareceu em casa todo ensanguentado, cabeça rachada num tombo. Carregado para bem longe na mudança dos pais, vestiu farda por falta de opção. Padre Cícero deve tê-lo acompanhado nas andanças, porque nunca levou nem deu tiro em ninguém – e continuou bebendo, porque a dor só se aplaca assim. Gastava adiantado todo o salário do mês – “amigos” não faltavam nas bebedeiras. Até que um dia aconteceu o milagre, porque é assim mesmo. Entrou na padaria para comprar cigarro. Só tinha o dinheiro contado. Comprou. Na saída, olhou para o balcão e viu! O doce! Seu doce preferido – e não tinha mais dinheiro. Parou ali de beber e de fumar. Já lá se vão quase três décadas do momento mágico. Ele continua firme. É o irmão que se segura e me segura.