Na reunião sempre sento ao lado dela, avó, sorriso iluminado, silenciosa, roupas coloridas, uma história para contar, só pra mim, de vez em quando. Roberto Carlos no cruzeiro singrando o oceano, por exemplo. Ouvimos alguns relatos e, quando posso, pergunto baixinho o que estamos fazendo ali, pessoas de fino trato, em meio a tantos malucos. Ela ri sempre – não falha. É uma mulher feliz que, no passado distante, dona de casa, tentava esconder do mundo, mais precisamente dela mesmo, que bebia duas garrafas de vodca por dia e se achava criativa, pois escondia o líquido em garrafas de água na geladeira, para disfarçar. Não disfarçava. Quando o marido começou a flagrar, enchia várias colocava em lugares diferentes, para o caso de alguma ser descoberta e sobrar as outras. Conta isso com o semblante tranquilo de alguém que está há décadas cuidando da vida e controlando sua doença. Ao ouvir relatos alucinados e malucos de outros integrantes de nosso time especial, completo minha gozação: “E a gente é que era louco…” Ela ri mais e me passa a certeza de que estamos trilhando o caminho certo.