20:39O dia em que o poeta descobriu que não estava morto entre uma pá de terra e outra

de Marcos Prado

perdido, estou perdido / perdido o ritmo e a rima, perdido / nenhum achado, ideia, sentido / ando como se de nenhum lugar tenha saído por a lugar nenhum ter ido / se me aparecem símbolos, virgulo / se fatos, pontuo / não me sinto mais o coitado que bebeu o conteúdo / nem como o herói que não conseguiu se salvar, contudo / duvido de quem acredita na vida / detesto quem acha essa passagem um teste / falso quem acha tudo uma farsa e faz do mundo um pasto / estou entre quatro paredes em um universo infinito / cheio de verdades afasto a cortina e minto / conheço gente de todo o tipo / não sei o que é pobre, médio ou rico / alguns consideram caro serem ricos / outros uma graça serem pobres / dos médios, desisto / olhando para trás acho um desatino / ser ninguém meio a tanto destino / não modifiquei nada, nem mantive / sempre morri de rir de quem vive / a morte hoje comigo sobrevive / fugi de todos os compromissos com meus dois cérebros omissos / gostei de algumas pessoas de que esqueci o nome / odiei outras que desejaria além dele o sobrenome / quando passei bem, lembrei que deveria passar fome / é, eu não li a vida como você está vendo / não sou eu quem está escrevendo? / ainda bem que você não está lendo

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