por Célio Heitor Guimarães
E 2015 chegou. Salve, gente brasileira, que o porvir não será fácil! Há nuvens carregadas no horizonte, o ar anda pesado, o calor está insuportável neste hemisfério e a reação da natureza, que se tornou tradição, já se faz sentir. Mas como hoje é dia de ano novo e de festa, esqueçamos por algumas horas a realidade e nos entreguemos ao sonho.
O meu querido e inesquecível Rubem Alves ensinava que “a esperança é de que, distante da pantomima do poder, os sonhos não tenham morrido. Como na estória da Bela Adormecida, eles dormem, mais profundos que pesadelos do cotidiano. E um dia acordarão. E o povo, possuído pela sua beleza esquecida, se transformará em guerreiro e se dedicará à única tarefa que vale a pena, que é a de transformar os sonhos em realidade”.
O mesmo conselho ofereceu o papa Francisco – o homem do ano de 2014 – aos jovens do Brasil: “Sejam re-vo-lu-cio-ná-rios!”.
Só os jovens serão capazes de mudar o mundo. Rubem Alves sabia disso: “Nós os adultos, porque nos levamos a sério, somos entidades enrijecidas, duras, solidificadas, incapazes de rir o riso que derrete as pedras, incapazes de novos começos”.
Os jovens, ao contrário – e as crianças, sobretudo –, não têm preconceitos nem ideias religiosas, mas sabem que política é a arte da mentira e da trapaça. E por isso desprezam os políticos e fazem pouco do poder. Um dia ainda varrerão políticos e poder para a lixeira. E assumirão os seus lugares em nome do amor, da fraternidade, da solidariedade e da beleza da vida. São os únicos capazes de entendê-los.
Todo mundo está em busca de um mundo que possa ser amado. E somente as crianças serão capazes de encontrá-lo.
Nada se espere dos políticos, dos banqueiros, dos empreiteiros, dos oportunistas, dos agentes de segurança, dos homens que fazem as guerras e dos que destroem a natureza. Fixe a sua esperança nas crianças.
As crianças que estão chegando têm a inteligência do coração. E a despeito da parafernália eletrônica que hoje as cercam e aparentemente as emburrecem, delas dependerá a renovação da vida.
Tenho uma neta de nove anos e todos os dias aprendo um pouco mais com ela. Quase sempre ela me surpreende, como no dia em que sugeri matriculá-la em um curso de desenho, já que adora desenhar. Tinha, então, quatro anos:
– Não posso, vô. Já tenho de ser espiã e detetive e de cuidar do mundo…
Aí me lembrei de outro menininho, também de quatro anos, que assistia na TV à morte de inúmeras crianças nas costumeiras tragédias do Afeganistão e do Iraque e passou a chorar com grande mágoa. A mãe tentou consolá-lo:
– Crianças também morrem, filho.
– Mas essas estão morrendo antes da hora – respondeu ele.
Feliz Ano Novo, companheiros de jornada!